Mais da metade da bancada ruralista se reelegeu no Congresso, vários membros do núcleo duro do agronegócio também continuam no legislativo

Depois de assentado todos os dados sobre as eleições tanto para o Senado quanto para a Câmara, não existe muita divergência entre os analistas de que o Congresso vai continuar com uma linha de conduta mais antiambiental. O que pode ficar até pior, caso o atual presidente Jair Bolsonaro consiga a reeleição no dia 30 de outubro.

“Está claro. Num [novo] governo Bolsonaro será um desastre total. Vai ser o império do garimpo ilegal legalizado, invasão de terras, da desproteção absoluta das Unidades de Conservação e das Terras Indígenas. Isso vai fazer do Brasil um pária, com o qual ninguém vai querer lidar. Não por acaso o país com o qual Bolsonaro tem a melhor relação é a Rússia. Houve um voto muito antiambiental no Norte e no Centro-Oeste. Houve um reforço  do poder já nas mãos do ruralismo e do garimpismo. O estado icônico nesse sentido é o Acre, governado pelo PT durante muito tempo e hoje na mão da direita ruralista”, afirma o sociólogo, cientista político e escritor Sérgio Abranches nesta entrevista para o Valor.

Na visão dele, assim como também mostra o texto assinado por Marli Olmos, a próxima legislatura terá uma bancada de senadores e deputados que obtiveram votos conservadores e reacionários, mas será preciso ver qual será o peso que eles terão no dia a dia, afirma Abranches. “Ricardo Salles quer reverter todo o processo de proteção da Amazônia. Pazuello quer governo de autoridade, é o ‘manda quem pode e obedece quem tem juízo’. No Senado temos Damares Alves (Republicanos), de inclinação fascista e ultraconservadora. Essa é uma bancada problema. É pequena. Mas são todos a cara de Bolsonaro, de Michele e dos filhos. Mas tem que ver qual será sua influência nas negociações internas do Congresso. Eu presumo que será pequena”, avalia o sociólogo.

Segundo  a leitura do coordenador de pesquisa do Observatório De Olho nos Ruralistas, Bruno Stankevicius Bassi, a  presença do agronegócio no Congresso Nacional vai continuar forte, apesar de 65 parlamentares da bancada ruralista não terem conseguido se eleger. “Dos 241 membros da FPA [Frente Parlamentar do Agronegócio] na Câmara, 135 se reelegeram — isto é, 65% dos deputados ruralistas assumirão um novo mandato em 2023. No Senado, o cenário foi mais difícil: apenas sete dos 25 integrantes da Frente que tentaram uma vaga obtiveram sucesso. Outros 11 senadores mantêm seus mandatos até 2027 — ou não disputaram as eleições, ou concorreram a novos cargos e foram derrotados”, escreve Bassi na Folha

Segundo ele, a situação fica mais crítica quando se analisa diretamente o que ocorreu com os candidatos do chamado núcleo duro da Frente Parlamentar do Agronegócio. “Dos 54 deputados e senadores que integram este núcleo, 25 foram reeleitos, nove mantiveram seus cargos e um foi “promovido” da Câmara para o Senado. Houve também aqueles que não disputaram a reeleição, mas elegeram sucessores, como o vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) José Mario Schreiner (MDB-GO), que transferiu seus votos para Marussa Boldrin, filha de sojicultores e uma das novas caras da bancada ruralista em Brasília. A eles somam-se ainda representantes diretos do garimpo ilegal”, explica o coorneador do Observatório De Olho nos Ruralistas.

Quando o recorte é feito apenas para a região da Amazônia, a tendência permanece a mesma, como analisa Elaíze Farias no Amazônia Real

“O quadro do Executivo, conforme os prognósticos apontaram, será dominado por governadores da direita e ultradireita, defensores do agronegócio e da mineração. As eleições legislativas seguem a mesma tendência”, explica a jornalista especializada na região da Amazônia.

Diante de tanta pressão contra as pautas ambientais, ao menos o movimento indígena está comemorando um resultado histórico em termos de Brasil. Isso porque houve a eleição de duas candidatas indígenas à Câmara Federal.

Sônia Guajajara e Célia Xakriabá foram eleitas, respectivamente, por São Paulo e Minas Gerais. “É uma articulação por uma reparação histórica que vem para romper com  avanço do projeto genocida e de privilégio de lucros e exploração da natureza em detrimento da vida”, afirma o coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Kleber Karipuna. Apesar da comemoração, a única parlamentar indígena da atual legislatura, Joênia Wapichana, não conseguiu se reeleger por Roraima.


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