Pressão para que próximo governo priorize as questões climáticas ganha força

Não existe mais como escapar. Assim como economia, segurança, educação e saúde, a questão climática não poderá mais ser negligenciada, devendo assumir status prioritário na agenda nacional, a despeito do que pensam alguns políticos e formadores de opinião que ainda olham as prioridades do país pelo retrovisor. Nesse contexto, segundo relata a repórter Daniela Chiaretti, no Valor, cresce a pressão para que o próximo governo crie uma secretaria do Clima. Essa decisão foi apresentada pela candidata ao Congresso Marina Silva ao candidato Lula, líder das pesquisas na corrida eleitoral para a Presidência da República. Simone Tebet (PMDB) também a incluiu em seu plano de governo.

Por ser um tema transversal, que afeta a diferentes setores da sociedade, tal secretaria terá um importante papel articulador, capaz de lidar com os desafios e as complexidades socioambientais do país. Isso envolve o enfrentamento de problemas que vão desde desmatamento, criminalidade, redução de desigualdades e proteção aos Povos Tradicionais até o desenvolvimento de políticas públicas que mantenham a floresta em pé.

“Há uma briga por protagonismo geopolítico no mundo, entre Estados Unidos e China”, afirma Marcello Brito, ex-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e coordenador da Academia Global do Agronegócio da Fundação Dom Cabral, à Daniela Chiaretti. “Neste pêndulo, que vai de um lado ao outro, temos a Amazônia, que nos dá estrutura política para não escolher um lado, com estrutura de captação de carbono e serviços ambientais, que, acoplados a uma economia moderna nos ministérios, faz com que o Brasil possa dar um salto importante, um ‘leap frog’”, avalia Brito. Indicando que o caminho da sustentabilidade veio para ficar.

Existe um movimento, envolvendo setor privado e Comunidades Tradicionais, de inserção no contexto da chamada bioeconomia e dos mercados de créditos de carbono, embora eles ainda sejam cercados de críticas e incertezas, principalmente com a ausência de um mercado de carbono regulado pelo governo. Enquanto isso, iniciativas voluntárias já estão em curso. Essa reportagem do jornal O Globo ilustra, por exemplo, como pecuaristas e comunidades de algumas regiões da Amazônia já estão envolvidas com projetos que buscam gerar renda a partir das emissões de carbono evitadas com a manutenção da floresta em pé. “Quando há ações sociais, os créditos gerados são do tipo CCB (clima, comunidade e biodiversidade), que são mais caros. Eles são também preferidos pelo mercado, porque a ideia é que esses créditos conseguem gerar uma preservação de longo prazo, explica Felipe Viana Lima, diretor comercial da Carbonext, à repórter Naiara Bertão.

À Folha, o agrônomo Mariano Cenamo, cofundador do Idesam e CEO da aceleradora de negócios AMAZ, apontou o que considera como caminhos possíveis na Amazônia. Em uma área crítica para a preservação da floresta, exemplificou ele, o Café Apuí começa a dar frutos, após dez anos de trabalho. “Estamos reflorestando áreas desmatadas com sistemas agroflorestais para produção de um café premium, com certificação orgânica, produzido 100% por agricultores familiares”, explicou Cenamo.

Ideias como as citadas nas duas reportagens avançam, apesar de ainda haver a ausência de estruturas mais adequadas, por parte do governo federal, para apoiá-las. Mesmo com a criação de uma secretaria do Clima, ainda existirão gargalos que precisarão ser destravados em Brasília, principalmente diante dos jogos de forças existentes no próprio Congresso Nacional. Como mostra outra reportagem da Folha, a maior parte dos candidatos que tentam a reeleição no legislativo, ainda não apoia as pautas ambientais.


Este conteúdo pode ser republicado livremente em versão online ou impressa. Por favor, mencione a origem do material. Alertamos, no entanto, que muitas das matérias por nós comentadas têm republicação restrita.

Aqui você encontra notícias e informações sobre estudos e pesquisas relacionados à questão do desmatamento. O conteúdo é produzido pela equipe do Instituto ClimaInfo especialmente para o PlenaMata.

Se você gostou dessa nota, clique aqui e assine a Newsletter PlenaMata para receber o boletim completo diário em seu e-mail.