No fim do ano, em novembro, Brasil terá poucos resultados para apresentar na COP27

Tudo por causa do desmatamento da Amazônia, que, na melhor das hipóteses, está estabilizado em um patamar altíssimo, será difícil para o Brasil apresentar bons resultados na COP27, a reunião anual sobre clima feita pelas nações dentro do escopo da ONU. A edição, agora, ocorre no Egito, na cidade de Sharm el-Sheikh. No ano passado, no encontro realizado no norte da Europa, na cidade escocesa de Glasgow, a delegação verde amarela tentou mostrar o protagonismo de outros tempos. 

Alguns compromissos foram assumidos, como a interrupção e a reversão do desmatamento dos biomas, entre eles a Amazônia, até 2028, dois anos antes da data prevista. O país também entrou para o grupo dos países que anunciaram a meta de reduzir em 30% as emissões do metano até o fim da década. Outra declaração: as emissões de gases de efeito estufa nacionais serão reduzidas em 50% até 2030. Mas por causa de uma pedalada climática estatal (mudanças nas contas da linha de base) o Brasil poderá emitir até mais nos próximos anos.

A encruzilhada gerada pela forma como o Brasil vem tratando a Amazônia demanda uma decisão rápida na escolha de qual caminho seguir. Um deles, o que vem sendo trilhado pelo atual governo federal, por exemplo, e até por alguns estados da região, vai levar a floresta para um precipício. E, portanto, ao cair nele, não haverá como retornar.

O texto da jornalista Miriam Leitão no O Globo, onde ela descreve uma conversa cheia de simbolismos como o cientista Carlos Nobre, um dos grandes pesquisadores vivos da região, é sintomático. O ponto de não retorno está bastante próximo. Nas estimativas do pesquisador do INPE, o intervalo para uma decisão a favor das comunidades amazônicas, da floresta e do planeta não pode demorar mais do que duas décadas.

“Vinte anos é um tempo marcante. Estamos tão próximos do ponto de não retorno que, se a gente não conseguir zerar o desmatamento, a degradação e o fogo a jato, o mais rápido possível, não conseguiremos deter o processo. Temos de dar uma oportunidade para todo o sul da Amazônia. O que eu falo agora não é previsão ou projeção, como eu fiz em vários artigos científicos. São observações. A estação seca está cinco semanas mais longa se comparada à de 1979. Aumentou uma semana por década. Então, a estação seca está agora com quatro ou cinco meses. Se aumentar mais duas semanas, ela chega a seis meses. Aí não tem mais volta”, avalia Nobre na conversa com Miriam.

As informações que a cada dia são geradas pela ciência na Amazônia mostram como o bioma é complexo, e cada metro quadrado dele é importante e precisa ser preservado da melhor forma possível. O repórter Leandro Machado, na BBC Brasil, relata como uma pesquisa desenvolvida pelo geógrafo brasileiro Leonardo Amora-Nogueira, doutor pela Universidade Federal Fluminense (UFF), e publicada pela revista científica Nature em julho, elevou a importância dos lagos amazônicos.

Eles foram classificados como “guerreiros” pela equipe da pesquisa por absorverem uma quantidade grande de carbono. O grupo de cientistas percorreu 1.200 km de floresta para analisar as condições de 13 lagos nos estados do Pará, Rondônia e Amazonas. Mesmo os de pequenas dimensões (e são os mais fáceis de serem impactados pelo desmatamento) têm uma importância grande para o embate contra as mudanças climáticas globais.

Por causa de toda essa transformação real em curso nas várias Amazônias, e o pouco tempo de ação que se tem para mudanças significativas pelo menos até o próximo governo assumir, caso não seja o próprio presidente Bolsonaro – e as pesquisas mostram que essa possibilidade não é pequena – é que os especialistas da área estão pessimistas como a COP do Egito.

“Ou o Brasil assume compromissos viáveis e com diálogo, ou continuaremos sendo vistos com desconfiança e como uma ameaça ao meio ambiente”, afirma Maycon Yuri Nascimento Costa, cientista político especializado em políticas ambientais, na Folha de S.Paulo. A reportagem da jornalista Amanda Magnani mostra porque o Brasil está longe da meta de conseguir zerar o desmatamento ilegal até 2028.


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