Dados atestam a permanência de altas taxas de desmatamento, enquanto cientistas e diplomatas falam da pior crise ambiental desde os anos 1980

Em entrevista ao Valor, o embaixador Rubens Barbosa foi direto sobre a atual situação ambiental: “O Brasil está vivendo a maior crise externa nessa área ambiental desde a década de 1980. Os militares, entre 1985 e 1987, estavam com o mesmo problema que vivemos hoje por causa do desmatamento na Amazônia e por causa da mesma visão de que é preciso integrar para não entregar. Foi aí que apareceu a Transamazônica e tudo o que foi feito para a ocupação do território. Agora, estamos vivendo o mesmo problema 30 anos depois, até porque, como ocorreu nas décadas de 1980 e 1990, interesses concretos estão sendo afetados”, atesta Barbosa ao repórter Fernando Exman.

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O diplomata que ocupou os postos mais importantes do Itamaraty em Washington e Londres refere-se ao acordo Mercosul-União Europeia, à tentativa de entrar na OCDE e aos selos ambientais que estão excluindo produtos brasileiros no exterior por conta, exatamente, do desmatamento amazônico. Segundo Barbosa, não adianta apelar para a retórica de que o Brasil está sendo vítima de protecionismo. A solução, pouco seguida pelo atual governo, envolve um único caminho: “O que interessa é o resultado”.

Rubens Barbosa está lançando um livro feito em conjunto com um grupo que estuda diplomacia ambiental na USP. Segundo ele, a pesquisa mostrou como vários itens previstos no Acordo de Paris, por exemplo, foram internalizados pelo Brasil nos últimos anos. Mas os vários “poréns” que seguem a afirmação são quase mais importantes do que a frase em si. O Brasil ainda não tem um roteiro definido sobre como chegará a 2050 com as emissões de carbono zeradas.

Barbosa diz que o grupo está “propondo aos candidatos que o meio ambiente esteja no centro, como prioridade, da política externa, assim como em outros países.”

Basta acompanhar os dados mensais do sistema DETER-INPE de monitoramento da Amazônia para saber que a questão ambiental não é prioridade da política externa nacional, e muito menos da interna. Como repercutiu o UOL, o desmatamento na Amazônia brasileira caiu 1,5% no mês passado em comparação com julho de 2021. Mas a informação está longe de ser positiva. Julho de 2022 foi o sexto mês com maior índice de desmatamento desde do começo do governo Bolsonaro. E, como os números ainda não consideram os últimos dias de julho, esta posição no ranking ainda pode mudar.

Além disso, no agregado, o desmatamento de 2022 também preocupa. Para qualquer período que se analise, na melhor das hipóteses o que se verá são números da destruição florestal estáveis, mas em níveis bastante altos se considerarmos toda a série histórica do INPE.

No chão da floresta, o incentivo ao garimpo ilegal deliberadamente feito por Brasília não para de repercutir. No Sul do Pará, uma Terra indígena está dividida. Na área quase cinco vezes maior que Brasília existem cinco aldeias, além de comunidades indígenas isoladas. Uma delas, a do Baú, virou um exemplo de resistência da região. Os indígenas do local escolheram viver do agroextrativismo e combater o garimpo ilegal, que está cooptando moradores das outras aldeias da região.

A reversão tanto do desmatamento quanto da explosão do garimpo ilegal está longe de um ponto de inflexão. Para que a situação possa começar a mudar será preciso que o próximo governo tome medidas urgentes, como relata Rafael Garcia no O Globo. Se o atual presidente for reeleito a tendência é de que esse processo seja ainda mais complicado.

Várias das mudanças infralegais feitas por Brasília, em ministérios como o do Meio Ambiente ou em órgãos como o IBAMA, teriam que ser revertidas de imediato, em uma espécie de revogaço simbólico. Tudo para reativar a política de comando e controle contra crimes ambientais que ficou bastante esgarçada na atual administração federal.


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