De um lado, cientistas descobrem alta degradação escondida na floresta; de outro, ambientes intrigantes, como manguezais atípicos perto do Atlântico

Os dados obtidos por grupos de cientistas sobre a destruição da Amazônia não param de escancarar a situação crítica da maior floresta tropical do planeta. Além do desmatamento em si, fartamente documentado, um outro processo mais oculto segue seu curso na região. Uma pesquisa liderada por cientistas brasileiros mostra que quase 13% da bacia amazônica está degradada, informa O Globo. Detalhe importante: isso ocorreu em apenas duas décadas, entre 2001 e 2020.

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Em termos de área, significa um impacto sobre uma região que tem mais de três vezes o tamanho do estado de São Paulo, ou 757 mil quilômetros quadrados.

“As secas extremas, mais severas e frequentes, como as que têm ocorrido, são o principal impacto das mudanças climáticas nas florestas tropicais. A seca empobrece o solo, retarda o crescimento e prejudica o funcionamento da floresta. Uma floresta sob seca é como uma criança desnutrida, que não se desenvolve bem”, comenta Humberto Barbosa, pesquisador da Universidade Federal de Alagoas e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

Além do estudo liderado pelo pesquisador do LAPIS, outro relatório produzido pela Organização Meteorológica Mundial e divulgado na sexta-feira, também ressalta a urgência do combate ao desmatamento da Amazônia. A OMM também informou do estado crítico de outros ecossistemas importantes, como as geleiras andinas e os recifes de coral da zona tropical do planeta. O estudo mostra que entre 2020 e 2022, ocorreram 175 desastres na América Latina e no Caribe, segundo dados do UNDRR (Escritório das Nações Unidas para Redução do Risco de Desastres, na sigla em inglês). E 88% desses eventos tiveram causas meteorológicas, climatológicas ou hidrológicas. Por causa da falta de proteção dos diversos biomas e do impacto das mudanças climáticas globais, os autores do estudo prevêem que as secas ficarão mais intensas na Amazônia e no nordeste do Brasil. Mas também vão afetar a América Central e o Caribe, além de partes do México.

Estes e vários outros estudos e análises acumulam informação gerada por meio de métodos validados internacionalmente. O diagnóstico correto, e embasado, é o primeiro passo para se tentar mudar as coisas. No caso da Amazônia, isso significa fortalecer processos e mecanismos de proteção ambiental e de respeito aos direitos dos Povos Tradicionais da região. Como escrevem Renato Janine Ribeiro, Fernanda Sobral e Paulo Artaxo, na Folha, a ciência independente e soberana é fundamental para melhorar o Brasil.

E para mostrar como a Amazônia continua sendo surpreendente, uma expedição internacional que passará dois anos percorrendo a bacia do Amazonas divulgou uma descoberta interessante nesta semana, como detalha reportagem do Portal g1. Os cientistas conseguiram confirmar a hipótese de que havia manguezais atípicos no delta do Amazonas. A alta vazão do rio faz com que manguezais consigam se desenvolver em solos hipossalinos.

“Depois dessa expedição, nos surpreendemos, porque esses manguezais têm estruturas bem diferentes do que estamos acostumados no Espírito Santo e em outros lugares no Brasil. Talvez 99% dos manguezais do Brasil se desenvolvam em solos com alta salinidade, em estuários e áreas marinhas. No delta ,a gente tem o maior rio do mundo criando essas condições especiais [para o manguezal doce]. É muito especial ver isso, um ecossistema adaptado como provavelmente não existe em nenhum outro lugar do mundo”, disse Angelo Bernardino, pesquisador e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Nesta atual fase da expedição, o professor e a cientista queniana Margaret Owuor estudam os valores econômico e social que o ecossistema manguezal proporciona para as comunidades da região. O projeto prevê viagens do Atlântico aos Andes.


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