Desmatamento registrado em junho equivale ao corte de uma área florestal igual a 74% da cidade de São Paulo

A sensação de impunidade que impera na Amazônia não para de registrar números negativos sobre o desmatamento da maior floresta tropical do planeta. Os dados do DETER, o programa de monitoramento do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), registraram em junho áreas com alertas de desmatamento na Amazônia Legal equivalentes a uma extensão de 1.120 quilômetros quadrados. O número é o maior para o mês desde 2016, portanto, o maior da série histórica do INPE, que começou em agosto de 2015.

Como compara a reportagem da Folha de S.Paulo, a extensão do estrago apenas no mês de junho equivaleria ao desmatamento de 74% da capital paulista, caso toda a cidade fosse coberta pela floresta tropical. Para o Observatório do Clima, os dados  – que representam um aumento de 120% em comparação com o mesmo mês de 2018, último ano do governo Temer – desmontam por completo a tese apresentada pelo governo em audiência na Câmara, na semana passada. Segundo o ministro do meio ambiente estaria ocorrendo uma queda nos números do desmatamento por causa da operação Guardiões do Bioma Amazônia, lançada em março.

Quando se amplia o foco, do mês de junho para todo o primeiro semestre de 2022, como fez o repórter André Borges no Estado de S.Paulo, os resultados do desmatamento continuam péssimos. Foram ceifados 3.988 quilômetros de floresta amazônica. Este é também o maior número registrado desde 2016 para o mesmo período, quando começou a ser montada a série histórica do INPE.

Como mostra a reportagem, a destruição florestal do primeiro semestre de 2022 é praticamente o triplo do volume registrado no mesmo intervalo de 2017, quando o desmatamento chegou a 1.332 km² na região. É o quarto ano consecutivo com recordes de desmatamento no período e supera em 10,6% a área devastada nos primeiros seis meses de 2021.

De acordo com Raul do Valle, especialista em políticas públicas do WWF-Brasil, a alta do desmatamento não pode ser desconectada do clima de impunidade criado pelo governo Bolsonaro. Entre as ações colocadas em prática, diz o especialista, estão o enfraquecimento da fiscalização ambiental e a expectativa de que o Congresso aprove leis que favoreçam a grilagem e o garimpo.

O Greenpeace Brasil, como registrou a DW Brasil, também relacionou a política ambiental do governo federal com o que vem ocorrendo mês a mês na Amazônia. “É mais um triste recorde para a floresta e seus Povos. Esse número só confirma que o governo federal não tem capacidade, nem interesse, de combater toda essa destruição ambiental. Seja por ação ou omissão, o que vemos é uma escalada inaceitável da destruição da floresta e do massacre de seus Povos e defensores”, afirmou o porta-voz da campanha Amazônia da organização, Rômulo Batista.

Os números que desconstroem a retórica ambiental de Brasília, aliados a episódios de violência como os assassinatos de Bruno e Dom, complicam ainda mais a imagem do presidente brasileiro no cenário internacional, segundo analisou Míriam Leitão em seu blog no O Globo. Como lembra a jornalista, o governo Bolsonaro foi condenado de forma muito dura na semana passada em uma resolução do parlamento europeu. O texto, que cita nominalmente Bolsonaro pela violência na Amazônia, recebeu 362 votos a favor, 16 contra e 200 abstenções.

“A resolução diz que é urgente que o Brasil cumpra os compromissos do Acordo de Paris e cumpra as condições para a entrada na OCDE. Ou seja, aumenta ainda mais o isolamento de Bolsonaro no mundo, ao ser condenado nominalmente pelo parlamento europeu pela sua retórica e pela sua política de estímulo à destruição”, escreve Míriam.


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