Falta de métricas e de uma cultura mais enraizada no mundo corporativo pode dificultar o alinhamento entre discurso e prática e o alcance de metas

A relação entre a Amazônia e o chamado mundo ESG, sigla relacionada com as responsabilidades ambientais, sociais e de governança adotada pelas empresas, é repleta de riscos. O avanço da agenda ESG ainda é recheado de contradições e poréns em alguns setores da economia, mostrando que sua implementaçao será mais difícil e complexa para uns do que para outros.

No caso da mineração, por exemplo, como discute a coluna Radar ESG do jornal O Globo, o contexto está dado. Sem inovação tecnológica não haverá um avanço relevante no curto ou médio prazos, segundo os principais líderes do setor. Tragédias de um passado nem tão distante, como as de Mariana e de Brumadinho, são exemplos claros da complexidade das interconexões entre lucro imediato e prestação de contas a acionistas, gestão de riscos e comprometimento efetivo com as melhores práticas de ESG.

Na floresta, o que resta saber é se as grandes mineradoras – garimpo ilegal é crime e faz parte de um outro contexto – vão de fato colocar o tema socioambiental no centro dos seus negócios e nas suas decisões estratégicas. Algumas, inclusive, afirmam já fazer isso a partir de planos bem traçados, como informa o Estadão.

Nem sempre é fácil separar as boas práticas corporativas e o impacto positivo dos negócios do chamado greenwashing ou do socialwashing. Por isso, quanto mais métricas forem desenvolvidas para ajudar as empresas, melhor. É o que acaba de fazer, por exemplo, o Pacto Global da ONU. A nova ferramenta, como relata o Valor, tem tudo para ajudar as empresas a avançarem no cenário ESG. O que vem ocorrendo, muitas vezes, em uma velocidade até maior do que no setor público.

Quando a temática ESG se espalha pelas mais variadas cadeias produtivas, e os temas da liderança feminina, da diversidade de pessoas e do combate ao racismo estrutural entram em cena, a responsabilidade, segundo pesquisadores do assunto, recai sobre os CEOs e os respectivos Conselhos de Administração, como discute essa outra reportagem do Estadão.

O fato de as empresas estarem se comprometendo com mudanças e englobando as preocupações ambientais, sociais e de governança em seus planos estratégicos pressupõe uma série de premissas. Uma das principais, segundo disse ao Estadão Luís Guedes, professor da FIA Business School, é a de que ninguém gosta de mudar, porque o cérebro humano não está muito ajustado para as incertezas. “As empresas têm mudado porque a sociedade está apresentando o anseio por questões ambientais e sociais”, analisa.

Nesse processo existem duas engrenagens vitais dentro das companhias para se chegar ao outro lado do rio. “O pilar da governança é absolutamente fundamental. Nesse contexto, cabe ao CEO manejar corretamente o risco. Investir em ESG é diminuir o risco sistêmico da companhia”, explica Guedes, especialista com mais de 20 anos de experiência nas áreas de inovação e competitividade. “A questão é como interiorizar essas novas questões na cultura da empresa. Quem não fizer isso tende à irrelevância e, por consequência, não vai conseguir sobreviver”, afirma Guedes.

Em tempo 1: Enquanto o setor privado avança em marcha lenta, e o executivo federal patina, o STF coloca um importante pé no acelerador ao reconhecer o Acordo de Paris como um tratado de Direitos Humanos. O caso, no qual o STF julgou a primeira ação climática de sua história, na semana passada, foi objeto de análise de Caio Borges, do Instituto Clima e Sociedade, para o site Capital Reset. Na avaliação do especialista, a decisão dos ministros mostra que a litigância climática estratégica é uma avenida necessária para garantir que os países, e as empresas, honrem com seus compromissos climáticos.

Em tempo 2: A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou, em caráter terminativo, na 4ª feira, um projeto de lei autorizando o parcelamento e a quitação facilitada de multas aplicadas a produtores rurais por infrações ambientais. Como informou a Folha, o projeto faz parte de uma “boiadinha” que vem sendo tocada silenciosamente no Senado, com a complacência do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco. As multas poderão ser parceladas em até 60 meses para produtores rurais que possuam áreas de até quatro módulos fiscais. Para pagamentos à vista, o projeto prevê desconto de até 10% no valor da multa e redução de 100% dos encargos. O texto seguiu para apreciação direta da Câmara dos Deputados, sem passar pelo plenário do Senado.


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