Pesquisa Datafolha revela que um terço da população não sabia dos assassinatos de Bruno e Dom

As homenagens feitas ontem, no velório do jornalista britânico Dom Phillips em Niterói, foram acompanhadas de um pedido por Justiça: “Seguiremos atentos a todos os desdobramentos das investigações, exigindo Justiça, no significado mais abrangente do termo. Renovamos nossa luta para que nossa dor e a da família de Bruno Pereira não se repitam. Assim como a das famílias de outros jornalistas e defensores do meio ambiente, que seguem em risco. Descansem em paz, Bruno e Dom”, disse a viúva de Dom, Alessandra Sampaio, ao ler uma carta escrita pelos familiares do jornalista. Dom foi assassinado no Vale do Javari enquanto pesquisava para um livro sobre a Amazônia acompanhando o indigenista Bruno Pereira. Como registra o portal UOL, a relação entre o jornalista britânico e o Brasil era grande. “Hoje Dom será cremado no país que amava, seu lar, o Brasil. O dia de hoje é de luto”, diz o documento redigido pelos familiares.

Enquanto isso, quase um quarto da população brasileira não soube dos desaparecimentos e das mortes de Dom e Bruno. Entre os 76% que afirmaram conhecer o episódio, 12% se consideraram mal informados. E isto apesar da ampla divulgação do caso pela imprensa, acompanhada pela divulgação  do domínio pelo crime organizado de amplas regiões da Amazônia, da violência generalizada contra as Populações Tradicionais, da expansão do garimpo ilegal e do desmatamento. É o que revela um trecho de recente da pesquisa Datafolha reportada pela Folha.

Entretanto, a preocupação com a violência na Amazônia tem se espalhado pelo mundo. Além das manifestações dos governos dos EUA e do Reino Unido sobre o caso específico dos assassinatos de Bruno e Dom, o Papa Francisco citou a necessidade de se ouvir mais os Povos Indígenas: “Vocês estão na fronteira com os mais pobres, onde eu gostaria de estar”, disse o Papa na semana passada a bispos da Amazônia no momento em que recebia destes um documento com denúncias sobre o que vem ocorrendo na região. O relatório cita o aumento dos conflitos sob o governo do presidente Bolsonaro. Francisco usou durante o encontro um cocar presenteado pelos bispos. As informações são d’O Globo.

Em outra matéria sobre a Amazônia, a jornalista Ana Carolina Amaral escreve na Folha sobre como a campanha eleitoral está reverberando na região. “Se o Lula não ganhar, vai ficar feio para vocês.” A mensagem, enviada na última semana a um líder da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau do norte de Rondônia, seguia com uma série de ameaças apócrifas contra os indígenas. A perspectiva de derrota do atual presidente nas eleições de outubro vem acelerando a destruição da Amazônia, segundo vários especialistas ouvidos pela reportagem.

Vale registrar que, nos cinco primeiros meses deste ano, o desmate na Amazônia foi 8% maior que no mesmo período do ano passado, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. E este é um período chuvoso, quando historicamente o desmatamento é menor.

Se no curto prazo a grande luta é para frear o desmatamento e coibir os crimes de garimpeiros, grileiros e outros criminosos, no médio e longo prazos é necessária uma mudança filosófica em relação à Amazônia, segundo disse Márcio Santilli ao jornal O Globo. “Nossa sociedade levou à Amazônia uma postura predatória, destruindo a cobertura vegetal e massacrando Povos Originários. O desequilíbrio climático nacional que vemos hoje é o resultado disso”, afirma o ativista, fundador do Instituto SocioAmbiental (ISA) e ex-presidente da FUNAI. Para Santilli, a lógica colonialista que ainda impera na região tem que acabar. “Precisamos investir em um modelo econômico na região que atenda à população local sem agredir o bioma e respeitando o modo de vida indígena. É uma mudança de paradigma”, afirma.

Os números do Datafolha mostram que ainda existe um caminho longo pela frente. Se de um lado entre 39% e 43% da população entende que Bolsonaro está estimulando a crise ambiental na Amazônia, um terço da população pensa que o governo federal mais combate do que incentiva a criminalidade no território amazônico, incluindo as áreas onde vivem as comunidades indígenas.

Em tempo: O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, julgou procedente a ação que alega ter havido omissão deliberada do governo federal na paralisação do Fundo Clima, segundo o portal (((o)))eco.


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