Na Cúpula das Américas e na Europa a questão ambiental estará no centro das discussões; governo Bolsonaro será cobrado a avançar contra o desmatamento

Em duas frentes distintas durante esta semana, o governo do presidente Bolsonaro terá que se desdobrar para convencer a outra parte de que está cumprindo com o combinado no campo ambiental. Como mostra o repórter Assis Moreira no Valor, a entrada ou não do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) terá uma reunião decisiva amanhã (9) em Paris. Os ministros dos 38 países-membros da instituição multilateral vão aprovar formalmente os termos para que o processo de admissão do Brasil ocorra, assim como para Peru, Bulgária, Croácia e Romênia.

No caso específico brasileiro, a questão ambiental terá um peso bem maior. Muito por causa da desconfiança que o governo Bolsonaro gera aos olhares estrangeiros. Segundo uma fonte ouvida por Moreira, a OCDE quer saber exatamente o que ocorre nos países-candidatos em relação ao que foi assumido em Glasgow, em 2021, na COP26.

E é aí que a imagem do Brasil, apesar dos esforços do Itamaraty para convencer seus pares internacionais, começa literalmente a ruir. Como mostra o repórter Emilio Sant’Anna no Estadão, seis meses após a Cúpula do Clima em Glasgow as metas assumidas pelo país diante da comunidade internacional estão patinando. 

Na verdade, o problema vai muito além da entrada ou não da OCDE. Da forma como está – o Brasil, por exemplo, se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal de florestas até 2028 mas a maioria dos números de 2022 só registram recordes negativos – a delegação nacional chegará também de mãos vazias na COP27, marcada para o fim do ano no Egito.

O país também registrou um aumento de 9,5% nas emissões de gases do efeito estufa em 2020 em relação ao ano anterior. A tendência mundial no mesmo ano foi de queda de 7%. Os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima. Outra meta árdua assumida em Glasgow, pelo ritmo lento desse processo, foi a de reflorestar 18 milhões de hectares até 2030. Como a área plantada de florestas até 2020, segundo o IBGE, chegou aos 9,3 milhões de hectares, vai ser preciso acelerar essa medida para que o objetivo oficial seja alcançado. Em oito anos, portanto, será essencial dobrar a extensão das plantações de árvores.

Do lado de cá do Atlântico, em Los Angeles, na Cúpula das Américas, que vai até o dia 10 de junho, Bolsonaro e Joe Biden devem se reunir pela primeira vez de forma presencial. E o tema ambiental também será central. Tudo indica, como mostra o jornalista Jamil Chade no UOL, que a reunião até certo ponto esvaziada organizada pelo presidente americano deverá gerar uma declaração sobre o clima.

O rascunho do texto não agradou o Itamaraty porque tocava em temas complicados. A diplomacia brasileira entrou em ação e atenuou algumas palavras que devem aparecer no comunicado final. Mas, segundo o jornalista Caio Junqueira, da CNN Brasil, os países devem se comprometer a tomar medidas para combater o desmatamento, evitar a conversão de ecossistemas em pastagens e áreas agrícolas, além de evitar a poluição de plásticos nos oceanos.

Com todos os olhos voltados para a Amazônia, qualquer participação brasileira no exterior será alvo de cobranças. Reportagens publicadas pelo Washington Post e pelo Dialogo Chino deixam claro como a retórica do atual governo Bolsonaro não consegue esconder o que de fato está ocorrendo no dia a dia da Amazônia – cuja situação de insegurança ficou evidente com o desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do brasileiro Bruno Araújo, reportado nos EUA pelos Washington Post e New York Times.  Resta saber qual será o poder de convencimento da delegação brasileira em Los Angeles, mesmo sem dispor de dados positivos em mãos.


Este conteúdo pode ser republicado livremente em versão online ou impressa. Por favor, mencione a origem do material. Alertamos, no entanto, que muitas das matérias por nós comentadas têm republicação restrita.

Aqui você encontra notícias e informações sobre estudos e pesquisas relacionados à questão do desmatamento. O conteúdo é produzido pela equipe do Instituto ClimaInfo especialmente para o PlenaMata.

Se você gostou dessa nota, clique aqui e assine a Newsletter PlenaMata para receber o boletim completo diário em seu e-mail.