Origens Brasil conecta extrativistas e indígenas de áreas protegidas do Pará a empresas e consumidores no fornecimento de castanhas, cumaru, látex e pirarucu livres de desmatamento.
A Iniciativa
- Quem é
- iniciativa conecta extrativistas e indígenas, empresas e consumidores para proteger e valorizar a riqueza social, cultural e ambiental da floresta
- Quem faz
- comunidades indígenas e tradicionais, ONGs e setor privado
- O que faz
- promove negócios e comércio éticos e sustentáveis desde 39 áreas prioritárias para a conservação paraenses.
- Onde atua
- Nas reservas extrativistas (Resex) Riozinho do Anfrísio e dos rios Xingu e Iriri, na Terra do Meio, Pará.
As fortes chuvas de novembro e dezembro derrubaram incontáveis “ouriços”, as cascas que envolvem as castanhas, de árvores com até 50 metros de altura. Nesses meses, pessoas driblam acidentes não transitando entre esses gigantes da floresta. Nas reservas extrativistas (Resex) Riozinho do Anfrísio e dos rios Xingu e Iriri, na Terra do Meio, no Pará, 400 famílias coletam os frutos até abril. A produção chega a 200 toneladas anuais.
Das florestas abrigadas nas áreas protegidas federais, também são extraídos óleos e farinhas de babaçu e de copaíba, borracha natural e pescado. “A diversidade produtiva garante renda o ano todo para as famílias, mas a castanha é o carro-chefe das populações tradicionais na Amazônia”, explicou Naldo Lima, assessor técnico das reservas extrativistas.
Até serem distribuídas para indústrias desde Altamira, as castanhas são liberadas com a quebra dos ouriços, selecionadas e secas e depois viajam por até 5 dias de barco (cerca de 400 km). A produção é acumulada para o transporte nas “cantinas”, entrepostos comerciais e de articulação política à beira dos rios. O nome é mantido desde o ciclo da borracha, quando as estruturas já abasteciam a região com itens como açúcar, café e óleo.
As resex paraenses integram um time mobilizado desde 2016 pela rede Origens Brasil, hoje com 2.300 produtores de 66 organizações comunitárias e 61 etnias indígenas. A iniciativa construiu um “pacote de soluções” que consolidou negócios associando-os à conservação da natureza e de culturas amazônicas nos grandes territórios da Calha Norte e dos rios Xingu, Negro, Solimões e Tupi Guaporé.
“A compra garantida e a preço justo da produção deram condições sustentáveis e seguras de sustento aos extrativistas e reforçaram seu papel na proteção dos territórios contra crimes como garimpo, retirada de madeira e trabalho escravo. O arranjo não é só comercial, ajudando a manter costumes e tradições seculares das famílias”, ressaltou Lima ao PlenaMata.
O fornecimento de insumos como castanhas, cumaru, látex e pirarucu desde 36 áreas protegidas garante que itens vendidos no Brasil e no exterior estão livres de desmatamento e outros ilícitos. Produção, transporte e comércio são rastreados e pagam melhores preços às comunidades, que atuam diretamente na gestão da iniciativa. O modelo inovador foi premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
“O projeto abriu a copa das árvores e mostrou que há pessoas vivendo, trabalhando e protegendo a floresta. As sementes do cumaru para a perfumaria rendem hoje muito mais do que a madeira para pisos. A demanda por borracha natural é atualmente maior do que a oferta”, ressaltou Patrícia Gomes, mestre em Gestão de Florestais Tropicais pela Universidade Federal de Viçosa (MG).
Associando experiências prévias, saberes ancestrais e tecnologias modernas, o Origens reduziu a pressão sobre comunidades afetadas por grandes obras ou pela criminalidade. “O projeto beneficiou de início os atingidos pela usina de Belo Monte ou que estavam sendo assediados por madeireiros, garimpeiros e pecuaristas. Sem isso, muitos poderiam ter sido cooptados por economias destruidoras da floresta”, contou Patrícia Gomes, secretária-executiva do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), coordenador da iniciativa.
Os volumes de insumos são contratados por quase 40 empresas são ajustados à capacidade produtiva de cada comunidade ou associação. Os produtos finais alcançam vários países. Suas fontes podem ser conferidas com códigos nas embalagens.
Taxas anuais pagas pelas companhias associadas ao projeto, como a Colorado e a Wickbold, e recursos de fontes, como o Fundo Amazônia, mantêm o Origens Brasil de pé. No fim de 2020, a Colorado lançou uma cerveja que muda de preço conforme o sobe e desce do desmatamento da Amazônia. O valor do produto aumentou junto à destruição da floresta, que disparou no governo Bolsonaro. O valor arrecadado com as vendas da cerveja, elaborada com babaçu produzido por comunidades paraenses, é doado à Rede de Cantinas da Terra do Meio.
Dois tipos de pães vendidos no país pela Wickbold também são elaborados com insumos amazônicos. Ano passado, a empresa comprou 1 tonelada de farinha de babaçu e 33 toneladas de castanhas das reservas extrativistas da Terra do Meio e de outras áreas protegidas nas regiões do Xingu, Calha Norte e Rio Negro.
“Nos últimos dois anos, deixamos mais de R$ 2 milhões nas mãos de extrativistas, indígenas, ribeirinhos e quilombolas. As famílias beneficiadas pela compra dos ingredientes também protegem milhões de hectares de floresta. São os verdadeiros agentes ambientais”, destacou Pedro Wickbold, diretor-geral da companhia.
Resistem ainda alguns entraves à expansão do comércio intermediado pelo Origens Brasil como as dificuldades de comunicação, para a emissão de notas em regiões remotas, escoamento dos insumos e até o roubo de cargas em rios e estradas. Mais e melhores políticas e créditos públicos ajudariam a estruturar e ampliar outros arranjos comerciais sustentáveis.
“Os contratos asseguram valores e volumes de compra quando há muita castanha e ocorre uma queda de preço. Mas os contratos podem não abarcar preços maiores quando as safras são reduzidas, abrindo espaço para atravessadores”, contou Naldo Lima, assessor técnico naquelas áreas protegidas.
Patrícia Gomes, do Imaflora, reforça a necessidade de apoio a esse tipo de projeto. “Manter a floresta em pé é o melhor meio para cortar poluentes climáticos. Mas precisamos dar grande escala a essas cadeias produtivas que aproveitem de forma sustentável e justa a diversidade cultural e natural da floresta. Estamos diante de um ponto de virada, com mercados se fechando a itens manchados por desmatamento e outros impactos”, completou.
Como se engajar
- Site da iniciativa
- www.origensbrasil.org.br
- Contatos
- www.origensbrasil.org.br/contato