Comunidade indígena trabalhou um mês sob escolta armada para abrir picada ilegal na floresta

Assim como ocorre em várias Terras Indígenas na Amazônia, a região de Apyterewa no Médio Xingu sofre com a criminalidade. Invasores e garimpeiros querem, a qualquer custo, se apropriar de parte do território em processo quase sempre facilitado pela ausência de comando do poder público.

Entre os parakanãs, a situação é um tanto peculiar. No ano passado, o STF, como mostra reportagem da Folha, autorizou uma conciliação entre indígenas e invasores para reduzir o tamanho da terra indígena. Em jogo, um espaço de 392 mil hectares.

Com a decisão, os fazendeiros vizinhos contrataram os próprios indígenas para abrir uma grande picada na mata que, em tese, seria a nova divisa entre a Terra Indígena e a área que seria explorada pelos invasores. Os trabalhos duraram um mês. E os fazendeiros, segundo os indígenas, não cumpriram boa parte do trato.

A diária, por exemplo, que seria de R$ 150 caiu para R$ 70. E como a comida oferecida passou a ser insuficiente os indígenas precisaram caçar para sobreviver. Muitos, então, desistiram do trabalho e tiveram que voltar a pé.

O STF, na mesma época, por causa da pressão de órgãos indigenistas, voltou atrás e suspendeu a conciliação. O acordo e a abertura da mata não tem respaldo legal, segundo apurou o repórter Fabiano Maisonnave, da Folha.

Desde o começo, o acordo tem gerado indignação entre os próprios parakanãs, principalmente por parte das mulheres. Em dezembro do ano passado, uma das jovens da comunidade fez duras críticas à decisão de abrir a picada na floresta o que, na prática, significava a redução da Terra Indígena.

“Falei para eles que a gente, de maneira nenhuma, quer fazer esse acordo com os invasores”, disse a jovem Mononara Parakanã, de 21 anos, estudante da oitava série. Segundo ela, nenhuma mulher estava de acordo com que os invasores patrocinassem a abertura do picadão.


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