Representantes do agronegócio repetem que setor não precisa cortar nenhuma árvore para turbinar produção, mas desmatamento continua crescendo

O lado vazio do copo indica que as áreas de pastagens na Amazônia brasileira cresceram 206% entre 1985 e 2020, passando de 19 milhões de hectares para 57 milhões de hectares, segundo um estudo do MapBiomas detalhado nesta quarta-feira (13/10) em um webinar técnico feito a partir do projeto Brasil Revelado. O evento recebeu a cobertura do site da revista Globo Rural.

O lado mais cheio, entretanto, mostra que a qualidade das pastagens melhorou a partir dos anos 2000. As áreas sem degradação, considerando também apenas o bioma amazônico, passou de 41% para 56%. Nestas últimas duas décadas, o total de áreas usadas para pastagens na região cresceram menos do que o estimado para o fim do século passado. Enquanto em 2000, 44 milhões de hectares eram destinados ao gado, em 2020 o número chegou aos 55 milhões de hectares.

A questão da pecuária no Brasil é sempre cercada de dicotomias. Enquanto ministros e outras lideranças políticas do setor afirmam que não é preciso derrubar mais nenhuma árvore para aumentar a produção de alimentos, o desmatamento continua alto. Neste contexto, com o objetivo de chamar a atenção da sociedade e mostrar que os recursos públicos devem ser direcionados para quem produz sem desmatar,  o Instituto Escolhas lança nesta quinta (14/10) a campanha “Chega de financiar o desmatamento com o dinheiro público”. Segundo a instituição, há 90 milhões de hectares de pastos degradados que podem ser incorporados à produção de alimentos nacional.

Em tempo: Por conta do Dia da Pecuária, vários textos discutiram o dilema do setor no Brasil. Enquanto grande parte está focada em práticas socioambientais, uma parcela dos produtores ainda patinam e cometem irregularidades ou contribuem para crimes ambientais. No Valor, Daniel Rittner coloca o dedo na ferida em um dos argumentos mais repetidos pelo agronegócio para defender a sustentabilidade no setor. Nomes importantes do agro, como os dos ex-ministros Roberto Rodrigues e Kátia Abreu, defendem que a produção de alimentos pode crescer no Brasil sem desmatar. “Se existe um aparente consenso, então por que raios ainda desmatamos tanto? Por que a devastação continua sendo financiada com recursos públicos (crédito com taxas subsidiadas, seguro rural, anistias, incentivos tributários)?”, questionou Rittner.


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