A recuperação florestal é um esforço de longo prazo, envolve mais do que as florestas e no qual é imprescindível engajar de fato a população local

Árvores em crescimento absorvem o CO2 da atmosfera e fixam o carbono na forma de tronco, galhos, raízes e folhas. Embora a discussão sobre sua efetividade seja antiga, nos últimos tempos o plantio de árvores se transformou em um dos eixos dos embates climáticos.

Benji Jones, na Vox, informa que o plantio pelo governo turco de 11 milhões de mudas em um dia deu em quase nada. 90% das mudas haviam morrido nos 3 primeiros meses. Jones enfatiza o resultado de um artigo da Nature do mês passado sobre a maior avaliação de um programa de recuperação florestal no norte da Índia ao longo de 50 anos. Resumindo, não foram encontrados benefícios climáticos claros e a qualidade de vida da população da região melhorou. Na avaliação de Jones, a recuperação florestal é um esforço de longo prazo, que envolve mais do que as florestas e que é imprescindível engajar de fato a população local, a qual, afinal, tem o conhecimento e o maior interesse em zelar por elas.

Yeb Saño, do Greenpeace Sudeste Asiático, comenta na Climate Change News as campanhas por créditos de carbono florestais. Os grandes poluidores, em especial as petroleiras, ao invés de parar de bombear carbono para a atmosfera, querem pagar para que o problema desapareça, querem “comprar nossas florestas, nossas terras, nossa natureza para o greenwashing de seus negócios” e cumprir promessas de net zero. Na escala que as petroleiras e coleguinhas projetam, pode faltar área ou se aguçar a falta de segurança alimentar para populações já por demais desassistidas.

No outro lado da discussão, de fato há um estoque de carbono nas árvores, e programas bem executados de restauração removem o CO2 da atmosfera. O Escolhas lançou uma plataforma olhando para áreas passíveis de concessão florestal por parte da União e estimando o carbono estocado e um possível valor associado. A plataforma estima, na prática, o potencial proposto por um projeto de lei, apresentado pelo deputado Rodrigo Agostinho e em tramitação na Câmara. Segundo o Valor, 47 concessões na Amazônia e na Mata Atlântica teriam o potencial de gerar quase 6 milhões tCO2e anualmente e obter R$130 milhões para manter este estoque intacto, caso as concessões sejam bem geridas.A TNC, o WRI e outros revisitaram a capacidade de remoção de carbono ao restaurar florestas e entendem que, para os trópicos, esta capacidade é o dobro da taxa mais aceita e, para florestas temperadas, esta é 50% maior. Com isso, as organizações identificaram as áreas globais com maior potencial a partir de um mapeamento feito com a Global Forest Watch. Em um trabalho publicado na Nature, estimam um potencial de remoção de 8,9 bilhões de toneladas de carbono por ano, cerca de 25% das emissões fósseis do mundo todo. Também vale ler outro artigo do grupo que saiu na Nature em janeiro deste ano.

Este conteúdo pode ser republicado livremente em versão online ou impressa. Por favor, mencione a origem do material. Alertamos, no entanto, que muitas das matérias por nós comentadas têm republicação restrita.

Aqui você encontra notícias e informações sobre estudos e pesquisas relacionados à questão do desmatamento.

O conteúdo é produzido pela equipe do Instituto ClimaInfo especialmente para o PlenaMata.

Se você gostou dessa nota, clique aqui e assine a Newsletter PlenaMata para receber o boletim completo diário em seu e-mail.