Bolsonaro começou seu discurso ontem na 76ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, tendo como alvo investidores e apoiadores

Bolsonaro começou seu discurso ontem na 76ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, tendo como alvo investidores e apoiadores. Mas, como costuma fazer, voltou a espalhar notícias e dados com pouca relação com a realidade. Ao longo de 12 minutos, informa o UOL, o presidente “atacou a imprensa, passou informações falsas e, fora de contexto sobre o combate ao desmatamento na Amazônia, enalteceu as manifestações golpistas de 7 de Setembro, insistindo em práticas erradas no combate à pandemia de COVID-19, com críticas ao lockdown e apoio ao tal tratamento precoce.

Bolsonaro afirmou que 83% da energia do Brasil vem de fontes renováveis. Mas, segundo o Balanço Energético Nacional de 2021, estas fontes respondem por apenas 48,4% da oferta interna do país. O dado citado por Bolsonaro se refere apenas à energia elétrica. A energia usada pelo transporte responde por 31,2% do total, segundo a Folha, que publicou uma checagem do discurso do presidente feita pela Agência Lupa e pelo Fakebook.eco.

Bolsonaro afirmou que “na Amazônia, tivemos uma redução de 32% no desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior”, e perguntou retoricamente: “Qual país do mundo tem uma política de preservação ambiental como a nossa?”. Porém, na 2ª feira o Imazon publicou novos dados mostrando que o desmatamento em agosto foi recorde em 10 anos, tendo atingido 1.606  km², 7% a mais do que no mesmo mês do ano passado. Sim, é verdade que os dados do sistema DETER-INPE indicam queda,na soma das áreas sob alerta de desmatamento na Amazônia realmente registrou decréscimo de 32,45% no mês citado, mas no Cerrado houve alta de 137%.

“Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta”, continuou Bolsonaro. Mas, segundo a verificação da Lupa/Fakebook, o INPE mostra que o desmatamento total da Amazônia é de 19%. No entanto, não se pode inferir que os outros 81% estejam “intactos”, já que não é possível distinguir áreas degradadas, mas com árvores ainda de pé, daquelas realmente preservadas.

Bolsonaro também afirmou ter antecipado, de 2060 para 2050, “o objetivo de alcançar a neutralidade climática. Os recursos humanos e financeiros, destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais, foram dobrados, com vistas a zerar o desmatamento ilegal.” Tal antecipação, ainda segundo a matéria da Folha, só existe em discurso. Nenhum documento a respeito foi enviado à ONU. E o tal aumento de recursos humanos e financeiros é avaliado como muito pequeno e muito tardio por uma série de analistas.

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