Crise climática contribuiu muito mais que o El Niño para a estiagem extrema que assolou a Amazônia em 2023 e cujos efeitos ainda são sentidos neste ano
A região amazônica viveu uma seca histórica e extrema no ano passado. Vários rios amazônicos registraram baixas históricas, caso do rio Negro, que teve sua menor vazão em 121 anos de medição. Mais de meio milhão de pessoas no estado do Amazonas foram afetadas, sofrendo com falta de água potável, alimentos e produtos. Comunidades inteiras ficaram isoladas por não conseguirem usar seus barcos, o principal meio de transporte da região. Sem falar em centenas de botos e milhares de peixes, mortos pela diminuição dos rios e o aquecimento incomum da água.
Com o surgimento do El Niño em meados de 2023, cientistas se debruçaram sobre a influência do fenômeno meteorológico sobre a estiagem. E um estudo de um grupo de pesquisadores da rede global de estudiosos World Weather Attribution (WWA) constatou que as mudanças climáticas, provocadas principalmente pela queima de combustíveis fósseis, foram as principais causadoras da devastadora seca na maior floresta tropical do mundo.
Os especialistas em assuntos climáticos do Brasil, Reino Unido, Holanda e Estados Unidos responsáveis pelo estudo usaram dois índices para avaliar a gravidade da estiagem: a pouca quantidade de chuvas no período e o aumento da temperatura pelas ondas de calor, que aumentam a evapotranspiração. Com base nesses dados, analisaram, separadamente, o impacto da mudança climática e do El Niño, que, quando está ativo, dificulta o avanço das frentes frias pelo país, diminuindo a quantidade de chuva no Norte e no Nordeste, detalha o Jornal Nacional.
Uma das autoras da pesquisa, a professora de Oceanografia Física e Clima da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Regina Rodrigues, explicou que os dois fenômenos ajudaram na diminuição extrema da chuva em 2023. No entanto, o aumento da temperatura foi impulsionado principalmente pelas mudanças climáticas.
“Mais ou menos 75% mudanças climáticas e 25% El Niño. Quando a gente coloca as condições atuais, incluindo as mudanças climáticas, aumenta muito a probabilidade de ocorrência. Isso significa que a seca ocorre muito mais frequentemente e com muito mais intensidade, porque, se fosse só com as constantes naturais, ela seria bem mais suave e ocorreria bem menos frequentemente”, detalhou a especialista. Assim, a mudança climática aumentou em 30 vezes a probabilidade de ocorrer tal seca.
Analisando os dados históricos, o estudo constatou que o evento ocorrido no ano passado é de nível excepcional, e que a precipitação na Amazônia de junho a novembro está diminuindo à medida que o clima se aquece, destaca a Folha.
O estudo apontou ainda que um histórico de desmatamento para agricultura e expansão urbana agravou a situação. A remoção e a degradação da vegetação reduzem a capacidade do solo de reter água, tornando muitas regiões da amazônia particularmente suscetíveis à seca, reforçam os cientistas.
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