Em livro, jovens pesquisadores propõem a integração de saberes científicos e tradicionais como um dos caminhos para superar os desafios da região

Em novembro e dezembro do ano passado, a Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) Amazônia Sustentável e Inclusiva, com apoio da FAPESP, reuniu 88 jovens cientistas envolvidos em pesquisas na região amazônica. Por duas semanas, os pesquisadores tiveram aulas com especialistas em diferentes temas envolvendo a Amazônia.

Contudo, mais do que um aprendizado formal, o encontro proporcionou a construção de novos conhecimentos a partir das experiências dos cientistas e da troca de ideias entre eles. O resultado desse brainstorm se materializou no e-book “Diálogos Amazônicos: contribuições para o debate sobre sustentabilidade e inclusão”, lançado neste mês. A publicação reúne uma série de propostas para o desenvolvimento sustentável e inclusivo da Amazônia.

“O objetivo da escola foi contribuir para a formação e capacitação de estudantes, pesquisadores e profissionais da área de biodiversidade e serviços ecossistêmicos que futuramente estarão liderando centros acadêmicos e de pesquisa, agências de governo, empresas, indústrias, organismos internacionais e diversos outros setores e instituições. O resultado das experiências e aprendizados adquiridos nesse processo está consolidado nos trabalhos que compõem este e-book”, explica na introdução do livro o professor emérito da UNICAMP, coordenador da ESPCA e um dos organizadores da publicação, Carlos Alfredo Joly.

O grupo de pesquisadores foi formado por brasileiros (60%) e estrangeiros (40%). Entre estes últimos, havia cientistas de países amazônicos, como Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Suriname e Venezuela, e também extra-amazônicos, como Guatemala, México, Estados Unidos, Itália e Países Baixos, detalham Agência FAPESP e O Progresso. O que comprova a diversidade de saberes reunidos no livro.

Disponível em Português, Inglês e Espanhol, o livro de dez capítulos é dividido em três seções: vetores de degradação e impactos de larga escala na Bacia Amazônica; inclusão e diversidade cultural na Bacia Amazônica, tanto no nível local como no transnacional; e aspectos relacionados à governança local, participação e transdisciplinaridade.

Uma das alunas da ESPCA foi a antropóloga e professora da Anton de Kom University, do Suriname, Mayra Sumter Robles. Ela lembrou das dificuldades de participar da escola, como as filhas pequenas esperando em casa e as barreiras linguísticas, uma vez que não é falante nativa de Português nem Espanhol, os dois idiomas oficiais do evento.

“Tenho duas filhas, uma delas com quatro meses na época, mas a minha família me deu esse suporte e foi uma incrível oportunidade conhecer grandes cérebros com quem podia discutir minhas visões e aprender com as deles”, disse ela, que é coautora do capítulo “Direitos territoriais e conservação da diversidade biocultural na Amazônia: Um estudo comparativo sobre demarcação e titulação de territórios indígenas e quilombolas no Brasil, Equador e Suriname”.

Mónica Moraes, pesquisadora do Herbário Nacional da Bolívia, da Universidad Mayor de San Andrés, foi uma das palestrantes da ESPCA. A especialista destacou a importância dessa interação e do cruzamento de conhecimentos distintos.

“Essa publicação é uma incrível prova de que, mesmo sob pressão, esse tipo de iniciativa pode dar muito certo e com ótima qualidade. Os participantes não se conheciam antes, mas eram muito empáticos, o que diz muito sobre o profissionalismo deles. Precisamos que isso ocorra, que suas habilidades interajam para dar conta de um cenário maior que se dá na região.”


Este conteúdo pode ser republicado livremente em versão online ou impressa. Por favor, mencione a origem do material. Alertamos, no entanto, que muitas das matérias por nós comentadas têm republicação restrita.

Aqui você encontra notícias e informações sobre estudos e pesquisas relacionados à questão do desmatamento. O conteúdo é produzido pela equipe do Instituto ClimaInfo especialmente para o PlenaMata.

Se você gostou dessa nota, clique aqui e assine a Newsletter PlenaMata para receber o boletim completo diário em seu e-mail.