Ativistas de Direitos Humanos e meio ambiente da região são uma face da distância que o mundo precisa percorrer pela igualdade de gênero, como mostra a ONU

O relatório “Gender Snapshot 2023”, divulgado semana passada pela ONU Mulheres e pelo departamento de estudos econômicos e de temas sociais das Nações Unidas (DESA), confirmou o que já é sabido: estamos muito longe da igualdade de gênero. Se quisermos alcançar um certo equilíbrio entre homens e mulheres até 2030, precisaremos investir US$ 360 bilhões anuais nos próximos sete anos, relata o Valor.

O fato é que as mulheres continuam mais vulneráveis à extrema pobreza e à insegurança alimentar, e ainda têm de trabalhar 2,3 horas a mais por dia que os homens em tarefas domésticas e de cuidado, mostra o documento. Além disso, continuam, evidentemente, mais sujeitas à violência, seja ela física ou psicológica.

Na Amazônia, muitas mulheres que estão na linha de frente na defesa da floresta, dos Povos Indígenas e de suas comunidades e territórios são exemplos do que é viver sob ameaça da violência. É o que comprova o estudo “Somos Vitórias-Régias”, do Instituto Igarapé, que traçou um perfil a partir de pesquisa com 287 defensoras que vivem na região amazônica no Brasil, Colômbia e Peru.

Quase metade das mulheres entrevistadas sofreu algum tipo de violência física ou psicológica em 2021 e 2022, reforça o Nexo. A maioria enxerga o seu trabalho como parte do cotidiano e sequer se reconhece como ativista – situação que as coloca em uma posição ainda mais vulnerável a diferentes tipos de violência, pontua o estudo.

De acordo com a diretora de pesquisa do Igarapé, Melina Risso, essas mulheres são chamadas de “população invisível”. E não apenas pela falta de autorreconhecimento como ativistas, mas por sua própria condição feminina: “Também tem a ver com um problema cultural sobre as expectativas que se tem sobre o papel da mulher. A voz dessas mulheres acaba calada em muitas situações”, explica.

Além de violências físicas e ameaças, o estudo detectou outros tipos de violências que se misturam com estruturas patriarcais e acabam naturalizadas, como casos das violências moral, de gênero, raciais ou de orientação sexual.

De acordo com a pesquisa do Igarapé, o tipo de violência mais recorrente entre as defensoras da Floresta Amazônica participantes do levantamento é a psicológica: 38% das brasileiras e 30% das colombianas relataram o problema, que atinge de forma ainda mais aguda as peruanas – 42%. Já a violência física foi mais citada na Colômbia – 14% –, ante 5% das defensoras da Amazônia no Brasil.

A tentativa de invisibilização dessas mulheres por pares homens e o abandono por parte dos companheiros foram outras questões detectadas, explica Claudelice Santos, coordenadora do Instituto Zé Cláudio e Maria, no Pará, e uma das profissionais capacitadas pelo Igarapé para conduzir as entrevistas.

“Se a mulher começa a sair demais para reuniões, se impõe em casa e prioriza o coletivo, ela corre o risco de ser abandonada pelo companheiro. Qualquer ato que não seja o de cuidar integralmente do marido e dos filhos é visto como a mulher encrenqueira, que abandona a casa para ir atrás de confusão.”

Segundo Claudelice, muitas mulheres recebem ultimatos de companheiros para que escolham entre a causa ou a vida privada. “Muitas escolheram a luta. Mas não é uma escolha simples, considerando que muitas dependem economicamente dos companheiros. Algumas defensoras com remuneração conseguiram tocar suas vidas, se candidataram, voltaram a estudar. Mas ainda não é uma realidade”, detalha.

De fato, o estudo mostra que no Brasil, 67% das mulheres entrevistadas não são remuneradas pelo trabalho em defesa dos Direitos Humanos e meio ambiente. Na Colômbia, são 57%, e no Peru, 83%.


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