Fruto-símbolo da Amazônia que beneficia vários produtores locais pode se tornar ameaça à biodiversidade devido a um “boom” da monocultura
O açaí é certamente o fruto amazônico mais conhecido no mundo. Há cerca de 30 anos, o pequeno fruto do açaizeiro, palmeira tipicamente amazônica que pode passar de 20 metros de altura, deixou de ser um alimento exclusivo dos amazônidas e ganhou consumidores apaixonados em todo o Brasil e depois em outros países, em várias versões e sabores diferentes do original. Contudo, o sucesso que levou renda aos extrativistas agora preocupa, já que vem estimulando a expansão dos açaizeiros e, com ela, criando uma ameaça à diversidade do bioma.
A vasta maioria da produção do açaí provém de áreas inundáveis da Amazônia, de onde o fruto é nativo, mas também há plantações de açaizeiro em terra firme. No passado, as palmeiras davam frutos somente em épocas específicas, mas o aperfeiçoamento das técnicas agrícolas permitiu manter certo volume de produção durante todo o ano, informa o UOL.
O Brasil é o principal produtor mundial de açaí, e mais de 90% da produção do país vem do Pará. Em 2021, o estado produziu mais de 1,38 milhão de toneladas do fruto, movimentando mais de R$ 5 bilhões na economia local, segundo o IBGE. As exportações de produtos derivados do açaí cresceram exponencialmente nos últimos anos – de 60 kg em 1999 para mais de 15.000 toneladas em 2021 –, segundo estimativas do governo do Pará, baseadas em dados de comércio exterior. Os principais importadores são Estados Unidos, Japão, Austrália e países europeus.
É inegável que o “boom” da fruta beneficiou economicamente os produtores tradicionais da Amazônia. Contudo, ao mesmo tempo ameaça a biodiversidade da floresta tropical, devido ao aumento da monocultura, destacam Carta Capital e UOL.
A cidade de Igarapé São João, a 120 km ao sul de Belém, fica às margens do rio Itacuruçá, uma planície inundável onde o açaí cresce naturalmente. A comunidade está localizada no município de Abaetetuba, que tem a quinta maior população quilombola do Brasil e é um importante polo de açaí no estado.
“Quando começa a safra do açaí [de agosto a janeiro], as coisas melhoram muito pra gente”, conta José Diogo, que conseguiu começar a construir sua casa graças ao seu trabalho na colheita do fruto. Em um dia bom, Diogo consegue encher 25 recipientes de 14 kg, que vende de R$ 12 a R$ 25 cada. Os intermediários compram as frutas da comunidade e as levam de barco até Belém para vendê-las até, no máximo, o dia seguinte. Todas as manhãs, o movimento é intenso no cais.
De fato, os produtores locais se beneficiaram do aumento da demanda pelo açaí, que gera renda sem desmatar a floresta. Entretanto, estudos mostram que a expansão está provocando perda de biodiversidade em algumas regiões, devido à substituição de outras espécies. E essa perda acaba afetando também o açaí, que se torna menos produtivo pela redução de polinizadores como abelhas, formigas e vespas.
“Naturalmente (o açaí) chega até 50, 60, 100 touceiras (plantas) por hectare. Quando chega no nível de 200 por hectare, a gente perde 60% da diversidade de plantas, outras espécies que naturalmente ocorrem na várzea”, explicou o biólogo Madson Freitas, pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e autor do estudo sobre o fenômeno, chamado de “açaízação”.
Assim como Diogo, Freitas também vem de uma comunidade quilombola. Ele acredita que reforçar as regras de preservação e a fiscalização pode ajudar a combater a monocultura. No entanto, é necessário oferecer incentivos aos produtores para que “mantenham a floresta em pé”, reforça o pesquisador.
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