Quase 60% dos eleitores do país votam contra exploração de combustíveis fósseis no Parque Nacional de Yasuní, numa vitória da mobilização da sociedade civil
A maioria dos eleitores equatorianos quer o fim da exploração de petróleo no Parque Nacional de Yasuní, na Floresta Amazônica, um dos lugares de maior biodiversidade do planeta. A decisão histórica foi aprovada num referendo realizado no domingo (20/8), junto ao primeiro turno das eleições presidenciais do Equador. Se os chefes de Estado pan-amazônicos não foram capazes de banir os combustíveis fósseis no documento final da Cúpula da Amazônia, o povo do Equador demonstrou que sabe da urgência de se acabar com a atividade petrolífera na região.
Certamente não se trata de uma decisão fácil. O petróleo, infelizmente, ainda tem peso considerável na economia equatoriana, mas essa riqueza não é dividida e não chega às pessoas. Ao mesmo tempo, a intensa mobilização de Povos Indígenas e organizações da sociedade civil mostrou os impactos ambientais dos combustíveis fósseis numa área tão sensível quanto Yasuní e a Floresta Amazônica. Ou seja, os lucros ficam com as empresas, e os custos sociais e ambientais são pagos pela população.
O Parque Nacional de Yasuní cobre mais de 1 milhão de hectares e abriga pelo menos 2 mil espécies de árvores e arbustos, 204 espécies de mamíferos, 610 espécies de pássaros, 121 espécies de répteis, 150 espécies de anfíbios e 250 espécies de peixes, detalha o Correio Braziliense. É também o lar de vários Povos Indígenas – como os Tagaeri e os Taromenani, dois dos últimos Povos Isolados do mundo.
A exploração de petróleo no parque ocorre desde 2016, no chamado Bloco 43. O início da atividade petrolífera na área ocorreu após a tentativa fracassada do então presidente equatoriano Rafael Correa de garantir um pacote de compensação global para manter os combustíveis fósseis no solo.
O resultado do plebiscito coroa a luta de ativistas do grupo Yasunidos, que surgiu quando Correa tentava mobilizar a compensação financeira de países ricos para manter o local intacto. Segundo o Um só planeta, o Yasunidos recrutou cerca de 1.400 voluntários para bater de porta em porta em todo o país. Em seis meses, coletaram mais de 757 mil assinaturas, quase 200 mil a mais do que o necessário para realizar um referendo.
A conquista histórica também se deve aos esforços de grupos indígenas do país. Em 2019, os Povos Waorani, que habitam o noroeste do Equador, já haviam obtido uma decisão judicial contra a abertura de mais um bloco de petróleo no parque, destaca ((o))eco.
“A consulta popular sobre Yasuní é importante para o Equador, mas também para o mundo inteiro. Diante da inação dos diferentes governos do mundo, os equatorianos estão decidindo tomar medidas reais contra a mudança climática”, diz Antonella Calle Avislés, da Yasunidos.
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