Cientistas sugerem o aprimoramento de políticas de governo contra a degradação florestal, menos visível, mas tão problemática quanto o desmatamento. Outra preocupação é com as fake news: pesquisa identificou 70 perfis em redes sociais e sites na Amazônia Legal que disseminam desinformação sobre a região

Em artigo no fim de 2022, a coordenadora de Avaliação de Política Pública para Conservação no Climate Policy Initiative/PUC-Rio, Clarissa Gandour, chamou a atenção para a degradação da Floresta Amazônica. Com os olhos de todos voltados para o desmatamento, caracterizado pela “completa destruição da vegetação nativa que existia em uma determinada área”, as “pequenas destruições florestais” que caracterizam a degradação acabam em segundo plano, explica Clarissa.

No entanto, os estragos desse processo são enormes. “Por ser menos resiliente do que uma floresta intacta, a [área de floresta] degradada fica mais sujeita a sofrer danos que agravam seu estado de deterioração e, portanto, aumentam sua vulnerabilidade. A degradação florestal mina a capacidade da floresta prover serviços ecossistêmicos críticos, como conservar biodiversidade e absorver e estocar carbono”, alerta a especialista.

Por essa razão, cientistas de 15 instituições de pesquisa lançaram um documento reivindicando o aprimoramento das políticas governamentais de combate à degradação florestal. O grupo propõe que o tema seja incorporado ao Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), que voltou a vigorar no governo Lula e estava em consulta pública até ontem (26/4).

“A degradação florestal é espacialmente distinta do desmatamento: somente com a criação e implementação de medidas específicas de combate aos principais vetores de degradação é possível evitar o aumento contínuo de florestas degradadas na Amazônia”, diz um trecho do documento, que foi entregue ao Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima.

Diferentemente do desmatamento, a degradação se dá de forma menos visível, mas não menos deletéria. Tendo como principais vetores o fogo e a exploração madeireira ilegal, areas degradadas têm menos valor ecológico, climático, econômico e social. Além disso, muitas vezes ela é o primeiro passo para a supressão total da floresta, aponta ((o))eco.

Há, porém, outro grave problema que afeta a Amazônia para além do desmatamento e da degradação. É um mal que não é específico da região amazônica, mas tem especial poder de destruição sobre fauna, flora, Povos e Terras Indígenas e Comunidades Tradicionais: a desinformação. E não se trata de desconhecimento, mas sim de fake news e de dados falsos e deturpados, divulgados propositalmente.

Uma pesquisa do Intervozes-Coletivo Brasil de Comunicação Social e de outras 10 entidades parceiras, realizada entre março de 2022 e fevereiro de 2023, identificou 70 perfis em redes sociais e páginas ou sites na internet que disseminam desinformação e notícias falsas na Amazônia Legal. Foram analisadas 200 páginas, em sete estados – Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Roraima, Mato Grosso e Tocantins. Os disseminadores de fake news foram separados entre organizações e ativistas de direita, figuras políticas públicas e canais jornalísticos, detalha a Agência Brasil.

“Eles constroem textos que são, normalmente, sensacionalistas, conspiratórios, principalmente em relação à Floresta Amazônica. Eles constroem textos com dados manipulados. Eles podem pegar metade de um texto com informações que são corretas e misturar com dados fabricados por eles. Ou fazem uma mistura de dados, trazendo uma confusão ao entendimento de quem lê esses textos”, explica Raquel Baster, do Intervozes.

Um caso recente dessa máquina de desinformação foi um vídeo que circulou na rede social TikTok. Ao reclamar da expulsão de garimpeiros ilegais da região de Itaituba, no Pará, o vídeo afirmava que Lula “vendeu a Amazônia” para estrangeiros. O narrador cita projeto da mineradora Brazauro, que teria negociado terras na área, e o relaciona com “canadenses e alemães”, com o Fundo Amazônia e com políticos brasileiros. Obviamente, tudo é falso.

“Não é verdade que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), tenham ‘vendido a Amazônia’ para uma empresa estrangeira em troca de recursos bilionários do Fundo Amazônia. Ao fazer essa alegação, o post desinforma sobre um projeto de mineração em Itaituba, no Pará, que obteve autorização de lavra pela Agência Nacional de Mineração (ANM) e realizou licenciamento ambiental junto à Secretaria do Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) em diferentes governos”, explica o Projeto Comprova, do Estadão, reproduzido pelo Correio Braziliense.

Para combater a desinformação, os pesquisadores do Intervozes recomendam fortalecer a cooperação entre estados, agentes privados e sociedade para encontrar mecanismos de regulamentação e de punição para quem divulga notícias falsas – o que pode ocorrer com a aprovação da Lei das Fake News, pelo Congresso. Além disso, defendem políticas de educação crítica para o uso da internet desde a infância.


Este conteúdo pode ser republicado livremente em versão online ou impressa. Por favor, mencione a origem do material. Alertamos, no entanto, que muitas das matérias por nós comentadas têm republicação restrita.

Aqui você encontra notícias e informações sobre estudos e pesquisas relacionados à questão do desmatamento. O conteúdo é produzido pela equipe do Instituto ClimaInfo especialmente para o PlenaMata.

Se você gostou dessa nota, clique aqui e assine a Newsletter PlenaMata para receber o boletim completo diário em seu e-mail.