As projeções dos ganhos financeiros a partir do desenvolvimento de uma economia baseada na floresta em pé variam, mas especialistas concordam: com políticas públicas adequadas, fiscalização e investimentos relativamente baixos, o Brasil pode liderar a bioeconomia global e zerar mais rapidamente suas emissões
Não é segredo que o Brasil tem muito a ganhar com a preservação da Floresta Amazônica. Financeiramente, o país pode gerar bilhões de dólares por ano, até 2050, em negócios voltados à bioeconomia, com a manutenção da floresta em pé. Além disso, pode ocupar uma posição privilegiada no cenário global, tornando-se uma nação neutra em gases de efeito estufa. Afinal, o desmatamento é hoje o Calcanhar-de-Aquiles do país em sua trajetória net zero.
Se zerar o desmatamento, especialmente na Amazônia, o Brasil poderá agregar até US$ 100 bilhões anuais ao Produto Interno Bruto (PIB) nacional com atividades agroflorestais. Além disso, vai evitar o lançamento na atmosfera de 21 bilhões de toneladas de CO2 – um terço das 60 bilhões de toneladas de CO2 emitidas anualmente no planeta – até 2050. E o investimento para manter a floresta em pé é significativamente baixo, se comparado com os ganhos: cerca de US$ 10 bilhões no desenvolvimento de uma economia sustentável, baseada na floresta.
A demanda global por produtos amazônicos atinge atualmente US$ 176 bilhões, mas o Brasil participa desse bolo com apenas 0,2%, segundo o pesquisador Salo Coslovsky, da Universidade de Nova York. Políticas adequadas e ações concretas que preservem atividades produtivas com a floresta em pé serão capazes de reverter esse cenário.
“Se conseguirmos zerar o desmatamento ilegal, dá para inverter a economia da Amazônia em menos de dez anos. É possível dar valor à bioeconomia rapidamente”, afirma o cientista climático Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), citando um potencial de geração de US$ 50 bilhões na região em apenas uma década.
Segundo estimativas da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), até 2050 a bioeconomia pode gerar faturamento industrial adicional de US$ 284 bilhões por ano. O cálculo considera uma série de ações nas quais o agronegócio e os setores de alimentação, farmacêutico, de cosméticos e de genética assumem protagonismo.
Contudo, o desenvolvimento econômico sustentável precisa de políticas públicas de combate ao desmatamento e de proteção de populações vulnerabilizadas pelas mudanças climáticas e conflitos de terras. Por isso, poder público e setor privado buscam soluções para transformar o atual ambiente, favorável ao crime organizado, em um ecossistema sustentável.
E políticas que determinem – e fiscalizem – a manutenção da floresta em pé e de carbono zero para o agronegócio – um dos segmentos econômicos mais conflitantes com a preservação – podem dar vantagem ao Brasil. Investimentos entre US$ 14 bilhões e US$ 20 bilhões por ano, novas tecnologias e um modelo de produção agropecuária descarbonizado podem agregar ao PIB nacional entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões anuais, segundo o CEO da Digital Gaya, Ned Harvey.
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