Estudo aponta que, entre 2008 e 2020, o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA) contribuiu para evitar o desmatamento de 264 mil hectares de floresta
As Áreas Protegidas da Amazônia – Unidades de Conservação, Terras Indígenas e Territórios Quilombolas – reduziram em 21% o desmatamento na região entre 2008 e 2020. Do total de desmatamento evitado, cerca de 264 mil hectares são de Unidades de Conservação (UCs) apoiadas pelo Programa de Áreas Protegidas da Amazônia – ARPA, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente. Com isso, cerca de 104 milhões de toneladas de CO2 deixaram de ser emitidas nesse período.
Os dados fazem parte de um estudo, realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do WWF-Brasil, FUNBIO e Universidade de Bonn, na Alemanha. Os especialistas buscaram quantificar o impacto do ARPA na redução do desmatamento e das emissões na Amazônia Brasileira. E os números mostram o sucesso da iniciativa.
O levantamento, noticiado por Ancelmo Góis, de O Globo, foi feito em 120 UCs apoiadas pelo programa. São 60 unidades de Uso Sustentável – que permitem o emprego de recursos naturais pelas populações locais – e 60 de Proteção Integral.
“Investimentos como o ARPA são efetivos e são um diferencial. Nossas análises mostraram que as UCs de Proteção Integral apoiadas pelo ARPA tiveram redução do desmatamento 9% maior do que a observada nas UCs não apoiadas pelo programa. Já nas UCs de Uso Sustentável a presença do ARPA resultou em redução adicional no desmatamento de 39%”, explica o coordenador do Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) da UFMG, professor Britaldo Silveira Soares-Filho.
O ARPA foi instaurado em 2002 para apoiar a consolidação de 60 milhões de hectares de Unidades de Conservação no bioma amazônico. É a maior iniciativa mundial de conservação de florestas tropicais, desempenhando um papel fundamental na conservação e serviços ecossistêmicos.
“O programa é modelo para outros países, como Colômbia e Peru. Os resultados mostram como, ao conservar a floresta, o ARPA dá início a uma reação em cadeia, beneficiando clima, biodiversidade e os mais de 20 milhões de habitantes da região, também gerando impacto positivo além dos limites do bioma”, afirma Fernanda Marques, coautora do estudo e gerente de Portfólio do FUNBIO, ao Neomondo.
Gerente de Conservação do WWF-Brasil, Mariana Napolitano salienta que, neste momento em que o novo governo dá sinais de retomada de investimentos destinados à preservação ambiental, é imprescindível que o Estado demonstre a capacidade de reconstruir mecanismos que protegem as florestas e suas comunidades. Ainda mais diante das ameaças no Congresso Nacional, onde a bancada ruralista tenta avançar com projetos que flexibilizam a exploração agrícola em Áreas Protegidas (APs), como relata Guilherme Amado, do Metrópoles.
“O estudo deixa claro que as Áreas Protegidas são ferramentas importantes não só para a conservação da biodiversidade e manutenção dos meios tradicionais de vida dos Povos da Floresta, mas também para mitigação da crise climática global. Especialmente a partir de 2018, quando a pressão volta a aumentar nas UCs da Amazônia, o desmatamento observado nas UCs do ARPA representa apenas 39% do que seria esperado caso não houvesse o apoio do programa”, explica Mariana.
Em tempo 1: A meta de zerar o desmatamento no Brasil até 2030 é “um enorme desafio”, mas “é factível.” É o que afirma o climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) Carlos Nobre, em entrevista à CNN. Se o país conseguir esse feito, será um dos primeiros do mundo a atingir metas do Acordo de Paris, diz o especialista. “95% do desmatamento na Amazônia e 80% no Cerrado são ilegais e criminosos, o Brasil têm de atacar o crime organizado que cresceu nos últimos anos. Não é fácil, mas é factível.”
Em tempo 2: Não é novidade que o caminho para a Amazônia é a bioeconomia. Por isso, o Pará está implementando um ambicioso plano – o PlanBio –, cujo objetivo é gerar empregos e preservar o meio ambiente, aumentando o apoio às empresas locais sustentáveis. Apresentado em novembro do ano passado na COP27 pelo governador do estado, Helder Barbalho, o PlanBio deverá receber pelo menos R$ 1,2 bilhão nos próximos cinco anos, dos governos estaduais e federal e de fontes externas. A informação é da Reuters.
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