COP27 ignora causas da crise ambiental e avança pouco em soluções reais
Terminaram as duas longas semanas de negociações climáticas no Egito. O balanço geral do encontro multilateral, sempre cheio de nuances, como é de praxe, mostra disposição de enfrentamento dos sintomas da crise climática, até com algum avanço na questão de perdas e danos (mecanismo em que os países vulneráveis devem ser ajudados financeiramente pelas nações mais ricas). Entretanto, revela que as negociações não conseguem avançar nas causas da mudança climática.
“O ‘equilíbrio’ desta COP foi entre os desejos do mundo desenvolvido – maior ambição de mitigação de grandes poluidores de renda média e alta e dividir a carga de quem é responsável por pagar pela ação climática -, e as demandas do mundo em desenvolvimento por reconhecimento e apoio em face da escalada dos impactos climáticos”, informa a análise da Cúpula feita pela equipe do ClimaInfo.
O texto, bastante completo, ainda lembra como a meta de manutenção do teto de 1,5oC de aquecimento médio global do planeta pode nem estar mais viva nas próximas reuniões. E este é o limite de sobrevivência de muitos países entre os mais afetados pela mudança climática.
Especificamente sobre a questão das Perdas e Danos, como mostra Daniela Chiaretti, no Valor, não se pode negar que o acordo obtido na reta final da COP27 é “uma decisão sem precedentes” na história das conferências climáticas. Mas isso não significa termos já uma solução real para o problema. Muito pelo contrário.
“Um fundo para perdas e danos é essencial – mas não é a resposta se a crise climática varre do mapa um pequeno Estado-ilha ou transforma um país africano inteiro em deserto”, disse em comunicado o secretário-geral da ONU, António Guterres. “O mundo ainda precisa de um salto gigante em ambição climática. A linha vermelha que não devemos cruzar é a linha que leva nosso planeta para além do limite de temperatura de 1,5ºC.”, disse o líder mundial.
Na prática, o fundo para perdas e danos agora existe, mas sem definição de seu funcionamento e de quem vai colocar o dinheiro. Isto é algo para ser discutido, e talvez definido, nos próximos meses. O embate agora fica para a COP28, nos Emirados Árabes, uma vez que o fundo deve começar a funcionar apenas em 2024.
O fato da próxima COP ocorrer no Oriente Médio, inclusive, pode ser emblemático, como menciona a Folha, ainda mais por se tratar de um país que vive sob regime autoritário. Até que ponto países como os Emirados Árabes estão realmente preocupados com as mudanças climáticas ou em apenas fazer greenwashing, como afirmam organizações do terceiro setor, é algo ainda a saber.
No cenário nacional, com a volta do Brasil ao palco internacional com a presença de Lula na COP27, a questão das florestas também deve ter maior evidência na pauta, assim como o tema do mercado de carbono. Mas, enquanto isso, os estados da Amazônia Legal estiveram presentes, em bloco, na COP27. E por mais que nenhum grande resultado prático tenha sido obtido, alguns acordos fechados pelos governadores, como detalha o Estadão, podem surtir efeito nos próximos meses e anos.
Por mais que seja apenas um simbolismo, como mostra o Portal da Amazônia, a região amazônica entrou definitivamente no radar das COPs. Isso porque, o presidente Lula, ao discursar no Egito, anunciou que vai oferecer o Brasil como hospedeiro da COP30, que será realizada em 2025, na própria Amazônia. Talvez no Pará governado por Helder Barbalho, que apoiou Lula na campanha para as eleições presidenciais.
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