Alguns dias após o desfecho surpreendente da COP27, horizonte parece mais nublado do que parecia, inclusive no Brasil
A Dança da Solidão, como diz o samba do também ecologista Paulinho da Viola, pode ser evocada para explicar o sentimento pós-COP27 na Europa, segundo registra Giuliana Miranda na Folha. Representantes da União Europeia, apesar de terem comemorado o surpreendente desfecho na reunião climática no Egito, com a criação de um fundo para financiar os países mais vulneráveis, deixaram clara a falta de ambição do encontro. Alguns observadores, inclusive, defendem a tese de que houve retrocessos em relação ao que havia sido decidido no ano passado, na COP26, em Glasgow, na Escócia.
“A Europa teve de lutar até ao fim para manter a ambição do ano passado, mas isso é insuficiente se quisermos cumprir as metas climáticas. Portanto, só posso concluir que 2022 foi um ano climático perdido”, afirmou o eurodeputado Bas Eickhout, líder da delegação do Parlamento Europeu no Egito. Também na Folha, a frase do vice-presidente da Comissão Europeia e negociador-chefe do bloco, Frans Timmermans, retrata a desaprovação com o desfecho da COP27. “A União Europeia veio aqui para obter um acordo com uma linguagem forte, e estamos desiludidos por não termos conseguido isso”, afirmou. O clima de frustração que fica da reunião do Egito também é discutido no balanço feito pelo Reset em forma de podcast.
Por mais que a criação do fundo na “COP Africana” tenha sido um avanço, esse fato não pode esconder o fato de que o ponto principal da conversa ficou de lado. Como mostra a análise do Observatório do Clima sobre o evento publicada também pelo ((o)) eco, não se discutiu, de fato, o que será feito pelas nações, em termos de corte de emissões, para que a meta de aquecimento médio do planeta fique em 1,5oC.
A discussão que se tem agora, a partir dos resultados da COP27, é outra, inclusive. Será que a meta ainda está viva? O mundo ainda tem condições de persegui-la na próxima década? A depender da opinião do cientista sueco Johan Rockstrom a resposta, para ambas as perguntas, é um sonoro não.
“Embora limitar o aquecimento a 1,5°C neste século seja uma necessidade científica e potencialmente possível, a COP27 mostrou que ela está politicamente morta. Este é um resultado trágico, mas não inesperado. O que é mais perturbador é que não há um número suficiente de pessoas incomodadas com o fato de que o mundo não irá dar conta de pagar perdas e danos a todos se o aquecimento continuar sem diminuir”, afirma climatologista europeu, um dos diretores do renomado Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK), em entrevista ao Valor.
No âmbito nacional, as nuances pós-COP27 também já surgem para nublar um pouco o horizonte. Por mais que a participação de Lula no evento internacional tenha resgatado o papel de protagonista do Brasil na questão ambiental, já existe uma dissidência entre os governadores da Amazônia Legal. A Folha registra que Marcos Rocha (União Brasil), governador de Rondônia, optou por não endossar a carta em que os governos estaduais da região fizeram assumindo compromissos com o desenvolvimento sustentável. O documento também foi entregue ao presidente eleito, na própria COP27, sem a participação de Rocha. Em Rondônia, Bolsonaro teve uma votação superior a 70% dos votos válidos no segundo turno, como também registra o repórter Vinicius Sassine. A apuração também mostra que o governador de Rondônia não pretende se encontrar com Lula antes de 2023.
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