Depois de arder de forma recorde em agosto, floresta continua queimando fora da curva nos primeiros dias do mês
No Valor, a repórter Daniela Chiaretti usa o termo assustador para classificar as queimadas que atingem a Amazônia no início de setembro. Nos cinco primeiros dias do mês, as imagens de satélites registraram quase 15.000 focos de calor, nos nove estados da Amazônia Legal. A comparação feita pela jornalista dá o tom do drama. Em todo o mês de setembro de 2021 houve pouco menos de 17.000 focos de calor.
Na avaliação de Suely Araújo, ex-presidente do IBAMA e especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, é realmente muito fogo em poucos dias. Segundo a pesquisadora, uma eventual explicação seria a mistura de seca com muito desmatamento nos últimos meses. O que propicia, agora, a busca por acabar de limpar o terreno.
Na Folha, Phillips Watanabe registra que os quatro primeiros dias do mês já somam mais de 12 mil queimadas. De forma consecutiva, os dias 2, 3 e 4 de setembro tiveram mais de 3 mil focos de calor. Uma sequência que não ocorria, pelo menos, desde 2007.
Diversas vezes, nos últimos 20 anos, houve dias consecutivos de setembro com mais de 2.000 focos. Há, inclusive, dias seguidos com mais de 4.000 queimadas registradas pelo INPE (como ocorreu em 2004, 2005 e 2007, por exemplo). O padrão atual, portanto, equivale aos registros de mais de uma década, quando os níveis de desmatamento estavam altíssimos e, depois, se conseguiu reverter a situação com uma política ambiental focada na proteção florestal.
O cenário identificado a partir do espaço para o início deste mês é uma continuação da realidade trágica aferida em agosto. Como registrou a Amazônia Real no início do mês, os mais de 30.000 focos de calor registrados ao longo de agosto foram os piores dos últimos cinco anos.
No dia 22 do mês passado, houve um recorde absoluto na Amazônia. Em apenas 24 horas, os 3.358 focos de queimadas ultrapassaram mais do que o dobro do famoso “Dia do Fogo” de 2019.
A análise dos dados do mês passado mostram que o Pará ficou em primeiro lugar no mês de agosto, com 11.364 focos, seguido do Amazonas, com 7.659, e Mato Grosso, com 5.156. Os municípios que se destacam no estado são: Altamira, São Félix do Xingu, Novo Progresso (PA); Apuí, seguido de Lábrea, Novo Aripuanã e Manicoré (AM); Porto Velho (RO); e Colniza (MT).
Várias dessas regiões continuam também sob uma cortina de fumaça agora na primeira semana de setembro. Principalmente no sul do Pará e no norte de Mato Grosso. A fragilidade da fiscalização, bastante acentuada nos últimos anos, está diretamente ligada ao problema do fogo, explicam os especialistas. Cidades do Pará, como Altamira, São Félix do Xingu e Novo Progresso estão entre os municípios que mais registram focos de calor.
A geografia do fogo e do desmatamento também aparece quando se analisa os doadores de campanha da reeleição do presidente Bolsonaro. Como mostra a jornalista Malu Gaspar em seu blog no O Globo, o maior doador da campanha do atual presidente já foi alvo de multas do IBAMA por desmatamento.
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