Estudo inédito mostra como um terço do desmatamento no Brasil ocorreu a partir de 1985
Tudo bem que faz apenas 50 anos, na Conferência de Estocolmo em 1972, que a ONU colocou sobre a mesa o termo desenvolvimento sustentável, de forma mais contundente. Tudo bem também que foi a Mata Atlântica, principalmente, o bioma mais devastado desde 1500, com a chegada dos portugueses – hoje com só 12% de sua cobertura original. Mas não deixa de ser chocante o dado que acaba de ser divulgado por um estudo do MapBiomas: mais de um terço de todo o desmatamento já registrado no país ocorreu em apenas 37 anos.
Entre 1985 e o ano passado, o país perdeu 13,1% de sua vegetação nativa, atestam as informações divulgadas pelo MapBiomas, iniciativa que reúne universidades, ONGS e empresas de tecnologia no monitoramento das transformações na cobertura e no uso da terra do Brasil. Essa é a Coleção 7 de mapas anuais de cobertura e uso da terra no país apresentada pelo grupo.
No período analisado, a porção do território brasileiro coberta por vegetação caiu de 76% para 66%, publicou o DW. As áreas devastadas desde 1985 deram lugar à agropecuária, que atualmente responde por um terço do uso da terra no Brasil. Em 37 anos, a área ocupada pela agropecuária passou de 21% para 31%, mas a agricultura teve sozinha o maior crescimento: 228%, e agora corresponde a 7,4% do território nacional.
“Apesar de 72% da área de expansão da agricultura ter ocorrido sobre terras já antropizadas [cujas características originais foram alteradas pela ação humana], principalmente pastagens, é importante ressaltar que 28% da mudança para lavoura temporária se deu sobre desmatamento e conversão direta de vegetação nativa”, afirmou Laerte Ferreira, professor da Universidade Federal de Goiás à reportagem da agência de notícias alemã. Ele é coordenador da Equipe de Mapeamento de Pastagem e do Grupo de Trabalho Solos do MapBiomas.
A perda de vegetação desde 1985, como avalia Giovana Girardi na Folha, equivale a um pouco mais do que os estados de Minas Gerais e São Paulo juntos. Com isso, houve perda de 17,1% da superfície da água no país. No total, o estudo considera que a área antropizada, ou seja, alterada por ação humana, cresceu 87,5 milhões de hectares no período.
Em escala municipal, como mostra o g1, também ocorreram mudanças. Em 1985 49% dos municípios tinham como principal uso da terra a agropecuária. Em 2021 esse percentual passou para 57%.
Em nível mais regional, como tem mostrado vários outros estudos que também avaliam imagens de satélite e outras informações por meio de inteligência artificial, a degradação de algumas regiões se destaca. Casos do MATOPIBA (sigla para designar uma região entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Pará) e da AMACRO (área fronteiriça entre o Acre, o Amazonas e Rondônia). Outra área onde a mudança de uso da terra vem ocorrendo de forma bastante rápida é a do Pampa, que teve, proporcionalmente, a maior redução da vegetação nativa, de 61,3% para 46,3% em 37 anos.
“Esta tendência de rápidas transformações representa grandes desafios para que o país possa se desenvolver e ocupar o território com sustentabilidade e prosperidade”, explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. Segundo ele, é importante que a ocupação do solo e a produção rural sejam compatibilizadas com a conservação dos biomas. O Metrópoles também registrou o estudo recém divulgado.
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