Logo antes de reuniões com a OCDE, Guedes volta a minimizar o peso da ineficiente política ambiental brasileira

Como registrou a Folha durante uma palestra do ministro da economia Paulo Guedes aos empresários em Brasília, a frase literal é: “O Brasil não é o cara que polui o mundo. É um pequeno transgressor, um pequeno poluidor. De vez em quando tem uma floresta que queima aqui e ali”, afirmou Guedes.

A tese do titular da pasta de Economia é que o Brasil responde por 2% da poluição global, enquanto países como a China atingem um percentual de 30%. “Os Estados Unidos queimaram 96% das florestas [do país]”, atesta Guedes, sem dizer de onde tirou este número.

Todo este discurso tem como objetivo preparar a posição do Brasil nas reuniões que ocorrerão no âmbito da OCDE nesta semana. O principal objetivo de Guedes, além de melhorar a imagem do Brasil no exterior, é fazer com que fundos internacionais voltados para o meio ambiente direcionem recursos para o Brasil. A ambição do ministro é abocanhar 20% (US$ 20 bilhões) de um total de US$ 100 bilhões que estarão em um fundo para premiar países que preservem o meio ambiente. Na mente de Guedes basta discutir a melhor forma de entregar os prêmios às melhores nações. E como o Brasil preservou, na visão de Brasília, nada mais justo do que ser premiado. “O Brasil tem um futuro verde”, segundo o ministro.

A questão agora é saber até que ponto o discurso descolado da realidade do ministro Paulo Guedes vai ser recebido pela comunidade internacional. Os números apresentados por estudos internacionais recentes desmontam a tese do ministro brasileiro.

Ao invés de 2%, o Brasil é responsável por aproximadamente 5% da poluição climática mundial, como mostra uma pesquisa da ONG Carbon Brief, repercutida pela BBC Brasil no ano passado. Agora, o que Guedes não falou é que a explosão do desmatamento da Amazônia durante o governo Bolsonaro não apenas descumpre a Política Nacional de Mudanças Climáticas, como coloca o Brasil na 4ª posição no ranking dos países que mais contribuíram para as mudanças climáticas globais até hoje, atrás somente de Estados Unidos, China e Rússia. No contexto ambiental, e em termos do futuro do planeta, 5% é muito alto.

Em tempo: Em se tratando da imagem internacional do Brasil, na semana passada houve o registro de um post simbólico do ator e ativista ambiental Leonardo DiCaprio pelo jornal Diário de Pernambuco. O texto indica que o norte-americano tem uma visão acurada do que se passa tanto na Amazônia quanto na Mata Atlântica. DiCaprio mostra que existem bons programas de restauração florestal em curso nos dois lugares, apesar da falta de governança ambiental das autoridades públicas.


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