Pesquisadores da Universidade Federal do Acre (UFAC) encontram forma de combater o Aedes aegypti com fungos nativos da Amazônia

A cada verão, além de termômetros nas alturas – e com tendência de temperaturas cada vez mais altas por causa das mudanças climáticas – e chuvas fortes, que muitas vezes causam perdas humanas e materiais, o Brasil tem outra expectativa: o aumento dos casos de dengue. Afinal, calor e água parada criam o ambiente perfeito para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, que transmite também a zika e a chikungunya. Neste ano, até o final de outubro, foram registrados 1,638 milhão de casos de dengue no país. E há uma expectativa de que haja uma epidemia em 2024.

Já existe uma vacina aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) contra a doença, mas ela ainda não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Por isso, é animadora a descoberta de pesquisadores da Universidade Federal do Acre (UFAC), que encontraram uma forma de combater o mosquito usando fungos nativos da Amazônia, informam Nexo e Olhar Digital.

Os pesquisadores coletaram 23 espécies de fungos amazônicos e estudaram quais eram capazes de parasitar o Aedes aegypti, tornando os insetos incapazes de se alimentarem ou se reproduzirem. Em condições laboratoriais, três dos organismos estudados – Beauveria sp, Metarhizium anisopliae e M. anisopliae – mostraram-se eficazes, com uma capacidade de 100%, 80% e 95%, respectivamente, de eliminar as larvas do mosquito em até cinco dias.

Para testar a hipótese, os cientistas colocaram larvas do mosquito em recipientes com água destilada e um concentrado de esporos responsáveis pela reprodução dos fungos, e em outro com água estéril. Um segundo teste foi feito em óleos minerais e vegetais. Nesse caso, a eficiência do inseticida natural foi menor, mas o óleo mineral se mostrou mais longevo na ação de combate do que o óleo vegetal.

Ao analisar a ação dos fungos em condições semelhantes às encontradas nas cidades – criadouros em água parada em caixas d’água e tambores, ralos, garrafas e pneus, por exemplo –, os índices de eliminação de larvas foram diferentes. O Beauveria sp diminuiu sua eficiência de 100% para 65%; o M. anisopliae se manteve com 95% de eficiência; e o Metarhizium anisopliae aumentou seu poder de ataque de 80% para 100%. O experimento-controle mostrou que, em condições normais, a mortalidade das larvas é de 10% no período.

Além de ser uma solução regional, o uso dos fungos amazônicos também é uma iniciativa sustentável, destaca o engenheiro florestal e biólogo Gleison Rafael Mendonça, coordenador do estudo. Afinal, é uma forma de não contaminar as águas em que os mosquitos se reproduzem, o que acontece com o uso de inseticidas. “Muitas pessoas morrem de dengue, chikungunya e outras doenças causadas por esses mosquitos todos os anos no Brasil. Então, queremos propiciar uma proteção eficaz e segura por meio de um produto biológico que não vai trazer prejuízo nem ao meio ambiente nem à saúde das pessoas, ao contrário de produtos químicos”, disse Mendonça à Agência Bori.


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