Baixa dos rios provocada pela estiagem extrema sem precedentes que atinge a região expõe gravuras rupestres de rostos talhadas há mais de 2.000 anos

A seca histórica que vem fazendo os grandes rios amazônicos registrarem baixas históricas modificou o cotidiano dos ribeirinhos da região. O rio Negro, por exemplo, desceu abaixo dos 13 metros na altura de Manaus pela primeira vez em 121 anos de medição. A situação já é crítica para mais de 600 mil pessoas no Amazonas, com comunidades inteiras sofrendo com falta de água e de alimentos, além do deslocamento dificultado pela quase impossibilidade do transporte fluvial, o principal modal da Amazônia.

Mas a estiagem sem precedentes também revela um lado amazônico ancestral desconhecido. Com a redução do nível da água, pedras de até 2.000 anos atrás com rostos humanos esculpidos podem ser vistas em um afloramento rochoso ao longo do curso d’água no rio Amazonas. Entalhes suaves na rocha podem indicar que indígenas afiavam flechas e lanças nesta área muito antes da chegada dos europeus, relata a Folha.

“As gravuras são pré-históricas, ou pré-coloniais. Não podemos datá-las com exatidão, mas com base nas evidências da ocupação humana da área, acreditamos que tenham cerca de 1.000 a 2.000 anos”, disse o arqueólogo Jaime de Santana Oliveira, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Algumas delas, informa a CNN, já haviam sido avistadas antes, mas agora há uma variedade maior que ajudará os pesquisadores a estabelecer suas origens.

O ponto rochoso onde as gravuras foram avistadas é chamado de Ponto das Lajes, próximo à confluência dos rios Rio Negro e Solimões, que se juntam na altura de Manaus e “formam” o rio Amazonas. 

Os entalhes foram avistados pela primeira vez em 2010, segundo Oliveira, quando houve uma estiagem forte na região. Mas a seca deste ano está sendo mais severa, com o nível do rio Negro cedendo 15 metros desde julho. Isso expôs vastas extensões de rochas e areia onde não havia praias.Embora moradores de Manaus e pesquisadores tenham se empolgado com a revelação da arte antiga no Amazonas, a preocupação com o clima e a seca histórica permanece grande, segundo o Canal Tech. Mesmo demonstrando encanto com as rochas entalhadas, a administradora Livia Ribeiro teme não ver mais o rio na cidade dentro de 50 ou 100 anos, se a estiagem continuar nesse ritmo.


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