Em 37 anos, 52 milhões de hectares de floresta foram convertidos para uso humano e para a agropecuária, mostra o MapBiomas. Situação piorou com Código Florestal
Entre 1985 e 2022, 96 milhões de hectares de mata nativa foram desmatados nos biomas brasileiros, uma área um pouco maior que todo o estado do Mato Grosso e quase duas vezes e meia o tamanho da Alemanha. Mais da metade (54%) dessa devastação – 52 milhões de hectares – ocorreu na Amazônia. É como se a área da França ou da Bahia tivesse sido devastada. Mas um detalhe do levantamento, feito pelo MapBiomas a partir de uma série histórica de dados de satélite disponíveis, é ainda mais incômodo: a destruição da vegetação nativa no país acelerou após a aprovação, em 2012, do Código Florestal Brasileiro – uma legislação criada justamente para proteger a flora.
De acordo com o MapBiomas, nos cinco anos que antecederam o Código Florestal (de 2008 a 2012), cerca de 5,8 milhões de hectares foram desmatados. Nos cinco anos posteriores à legislação (de 2013 a 2018), a devastação saltou para 8 milhões de hectares. E no período mais recente de dados (2018 a 2022), houve um aumento de 120% no desmatamento sobre o período pré-código (2008-2012), com 12,8 milhões de hectares de vegetação nativa destruídos, detalha o Estadão.
O principal motivo detectado pelo levantamento para o desmate é o uso da terra para atividades agropecuárias. Na Amazônia, a área ocupada pelo agro saltou de 3% para 16%, informa a Carta Capital. No Pantanal, de 5% para 15%; no Pampa, de 29% para 44%; na Caatinga, de 33% para 40%. E no Cerrado, a agropecuária agora ocupa metade do bioma (50%) – em 1985, era pouco mais de um terço (34%).
Em todo o Brasil, a área ocupada por atividades agropecuárias passou de cerca de um quinto (22%) para um terço (33%) do território nesse período. As pastagens avançaram sobre 61,4 milhões de hectares entre 1985 e 2022; a agricultura, sobre 41,9 milhões de hectares. E o avanço da agropecuária se deu prioritariamente sobre áreas de floresta.
Atualmente dois novos arcos do desmatamento se destacam em pólos de forte expansão agrícola, destaca o MapBiomas. Um deles é no oeste da Amazônia, na fronteira entre Amazonas, Rondônia e Acre – região conhecida como AMACRO –, onde o uso agropecuário aumentou 10 vezes nos últimos 38 anos, chegando a 5,3 milhões de hectares, o equivalente a 21% da área do território. O outro é o MATOPIBA, na fronteira entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, no Cerrado, onde a agropecuária aumentou 14 milhões de hectares, chegando a 25 milhões de hectares em 2022, equivalentes a 35% do território.
E em tempos de votação do marco temporal no Supremo Tribunal Federal (STF) e da ameaça de a tese ser votada no Senado, o MapBiomas reforça uma característica que já era conhecida, mas que precisa ser repetida: os Povos Indígenas são os principais responsáveis pela preservação florestal do Brasil, na Amazônia e nos demais biomas do país.
De acordo com o estudo, as Terras Indígenas ocupam 13% do território nacional, mas contêm 19% de toda vegetação nativa do país. E apenas 1% da perda de vegetação nativa nas últimas três décadas se deu nestas áreas.
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