Enquanto governo lança o “Energias da Amazônia” para descarbonizar eletricidade da região, a internet via satélite ganha espaço na região e conecta localidades

Em plena Floresta Amazônica, muitas comunidades longínquas são abastecidas por uma eletricidade suja, gerada a combustíveis fósseis, e cara, justamente por usar derivados de petróleo – inclusive no transporte desses produtos, o que faz com que em alguns locais se gaste até 6 litros de diesel por cada litro do combustível usado para produzir eletricidade. Um contrassenso que deve começar a mudar com o início do programa “Energias da Amazônia”, lançado oficialmente pelo governo federal na quinta-feira passada (17/8).

O programa terá investimentos de cerca de R$ 5 bilhões. Uma das ações é a troca de derivados de petróleo por fontes renováveis e combustíveis de baixo carbono, como o biodiesel, na geração elétrica. Outra é a conexão de sistemas isolados, localidades hoje não atendidas pela rede elétrica básica. O plano ainda prevê o treinamento da população local para instalar, operar e fazer manutenção de equipamentos de geração e armazenamento de energia elétrica, de acordo com a epbr.

Mais de 3,1 milhões de amazônidas serão diretamente beneficiados pelo “Energias da Amazônia”. Contudo, a conexão de localidades isoladas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e a substituição de combustíveis fósseis onde a interligação não for possível será um alívio ambiental e também financeiro a todo o país. Cerca de R$ 12 bilhões são pagos anualmente por todos os consumidores de energia do país para bancar os combustíveis fósseis e sujos que produzem eletricidade nos sistemas isolados.

Mas nem tudo é limpeza. Como relata o Poder 360, em algumas regiões, em vez de fontes renováveis, o governo vai trocar derivados de petróleo por gás fóssil na produção elétrica, segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. “Com as tecnologias de hoje e as potencialidades que temos na Amazônia, sobretudo com o gás, é possível mudar isso. As térmicas movidas a óleo poderão ser a gás”, disse Silveira. Ou seja, a descarbonização não será completa, o que seria o ideal.

Além da oferta de energia limpa e renovável e da conexão à rede elétrica básica, outra dificuldade para comunidades isoladas da Amazônia começa a ser rompida. A conexão à internet com banda larga trazida por satélites de órbita baixa vem ganhando força na região.

O diretor do Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS) do Rio de Janeiro, Ronaldo Lemos, conta, em artigo na Folha, que a tecnologia tem sido cada vez mais utilizada em regiões remotas da Amazônia, por comunidades e Povos Indígenas, inclusive por escolas. Iniciativas de comunicação local usadas por diversos Povos Originários estão migrando do rádio para internet, como relata Juliana Albuquerque, do Povo Baré, que atua na rede de comunicação Wayuri.

A principal empresa a ofertar internet via satélite na Amazônia é a Starlink, do polêmico empresário Elon Musk. Musk chegou a conversar com o governo anterior para levar suas antenas a escolas amazônicas e locais isolados, mas nada foi adiante. Contudo, ganhou destaque o fato de garimpos ilegais na Amazônia estarem usando a tecnologia Starlink.

Felizmente, a novidade também está se expandindo para o bem. E a rapidez dessa expansão preocupa lideranças locais, destaca Lemos. “A conexão se expande tão rápido que as lideranças locais já começam a debater seu impacto cultural, especialmente com relação às crianças. Há líderes preocupados se as crianças poderão perder o contato com modos de vida local por causa disso.”

A preocupação é válida. E, como destaca o diretor do ITS, as decisões sobre o que cada Povo Originário vai fazer com a chegada da internet podem trazer lições para todos nós. Mas a conexão da Amazônia é um caminho sem volta e, sobretudo, uma necessidade para a inclusão econômica e social da região.

“Conectar a região amazônica é o Santo Graal do desenvolvimento da região. Pode trazer oportunidades, expandir a economia do conhecimento (inclusive local) e propelir projetos de educação”, avalia Lemos.


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