Manter a floresta em pé pode agregar R$ 40 bilhões anuais ao PIB amazônico e gerar mais de 800 mil empregos. Mas combater a destruição e promover desenvolvimento sustentável da região exige também o enfrentamento à violência de gênero

O atual modelo de “desenvolvimento” da Amazônia – baseado na velha lógica de devastação florestal, exploração desenfreada de recursos naturais e atividades de alto impacto ambiental – é uma tragédia para todo o planeta. Além de seus efeitos maléficos sobre o clima, com a aceleração do ponto de não-retorno da Floresta Amazônica, causa enorme prejuízo econômico para a região e para todo o Brasil.

Reverter esse quadro, no entanto, é possível. É o que propõe a “Nova Economia da Amazônia” (NEA), lançada por WRI Brasil e The New Climate Economy, em parceria com 76 especialistas de instituições científicas de todo o país. O projeto apresenta caminhos para estruturar uma economia amazônica moderna e livre de desmatamento, impulsionando a descarbonização de toda a economia brasileira.

Orientada por premissas do Acordo de Paris, como a do desmatamento zero e da restauração florestal, por exemplo, a NEA projeta, para 2050, R$ 40 bilhões a mais por ano no PIB amazônico na comparação com o PIB atual.

Além disso, prevê a geração de 312 mil empregos adicionais – podendo criar ainda 833 mil novos empregos no setor de bioeconomia –, a restauração de 24 milhões de hectares de florestas – área equivalente à do estado de São Paulo – e o aumento em 19% do estoque de carbono da Amazônia, lista a Exame.

O estudo combinou modelos econômicos de diferentes instituições brasileiras. Os investimentos para financiar a NEA foram estimados em 1,8% do PIB nacional ao ano, contra 1% ao ano no cenário referencial. Dos R$ 2,56 trilhões adicionais exigidos para a mudança, R$ 442 bilhões seriam destinados à agricultura e à pecuária de baixa emissão de carbono; R$ 217 bilhões, à bioeconomia e à restauração; R$ 410 bilhões, à matriz energética; e R$ 1,49 trilhão, à infraestrutura.

Já o prejuízo de não fazer a transição para a NEA é muito mais alto, pontua o Um só planeta. Projeções indicam que o custo de não frear o aquecimento global abaixo de 2°C deve oscilar entre 4% e 18% do PIB global até 2048. Comparados às penalidades “não fazer” sugeridas para o PIB do Brasil pelo Swiss Re Institute, os investimentos adicionais de R$ 2,56 trilhões para a nova economia amazônica seriam menos da metade dos custos de não se promover a transição – isso nas estimativas econômicas mais conservadoras.

E uma transição na Amazônia alcançaria toda a economia brasileira. Isso se daria por meio dos fluxos de investimentos, insumos e produtos trocados entre as regiões, conduzindo o país para a descarbonização de toda a sua economia, diz a pesquisa.

Mas a mudança de paradigma para o desenvolvimento amazônico exige também atenção especial a questões estruturais de nossa sociedade. Como a (falta de) equidade de gênero. Por isso, também é preciso combater a violência contra as mulheres – que se mostra particularmente preocupante na região amazônica.

“No último levantamento sobre feminicídios do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2022 a taxa nacional de mortes de mulheres em situações ligadas à violência doméstica e/ou sexual foi de 1,3 morte a cada 100 mil brasileiras, o maior número em nossa série histórica. Somente nos estados da Amazônia Legal, a taxa de feminicídios sobe para quase 1,9 morte a cada 100 mil mulheres, cerca de 40% maior do que a média nacional. A violência contra as brasileiras é desproporcionalmente amazônica”, lembra Beatriz Accioly Lins, coordenadora da área de pesquisa e impacto do Instituto Avon, em artigo no UOL.

As mudanças climáticas afetam desproporcionalmente a população feminina, em especial mulheres em situações de vulnerabilidade e marginalização, como mulheres indígenas, pobres ou de comunidades tradicionais, reitera a especialista. Por isso, o nexo entre justiça climática e violência contra mulheres tem de ser assunto central nas pautas ambientais.

“Falar de Amazônia também é falar de violência de gênero e garantia de direitos para as mulheres. Se não forem tomadas ações proativas e abrangentes que levem em consideração as desigualdades existentes, em particular as de gênero, as crises climáticas e ambientais servirão para intensificar ainda mais as vulnerabilidades de mulheres e meninas”, sentencia.


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