A Amazônia precisa de investimentos. Por isso, os recursos prometidos pelo BID e pelo governo britânico são bem-vindos. Mas é fundamental também que os bancos parem de financiar atividades que, em vez de desenvolver, devastam a região
O financiamento ao combate ao desmatamento, à conservação florestal e à promoção de negócios sustentáveis na região amazônica tem o Fundo Amazônia como seu representante mais notório. Contudo, preservar a floresta e promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia exige muito mais recursos que os disponibilizados pelo Fundo. Ao mesmo tempo, é preciso “fechar as torneiras” que ainda sustentam atividades ilegais na região, mesmo que indiretamente.
No primeiro caso, uma sinalização positiva vem do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O presidente da instituição, o brasileiro Ilan Goldfajn, quer que o BID seja um “guarda-chuva” para todos os projetos relacionados ao clima na Amazônia, unindo diversas iniciativas.
Bancos multilaterais de desenvolvimento como o BID têm papel-chave nos esforços para integrar mais os problemas climáticos na arquitetura financeira internacional, lembra O Globo. E a reforma do sistema financeiro mundial para facilitar o acesso dos países mais pobres a financiamentos mais justos contra a crise climática é o mote da “Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global”, que se realiza nestas quinta e sexta-feiras (22 e 23/6), em Paris.
“Sabemos quanto precisamos para o clima, um trilhão de dólares [R$ 4,8 trilhões], que é muito. Temos o dinheiro? Ainda temos que ver o quanto conseguimos arrecadar”, explica Goldfajn. E na ausência de um financiamento público internacional, o presidente do BID defende maior participação do setor privado.
Obter mais financiamentos privados para a preservação da Floresta Amazônica está nos planos da embaixadora do Reino Unido no Brasil, Stephanie Al-Qaq. Ela disse à CNN que pediu o apoio do Rei Charles III, conhecido por seu engajamento na defesa da conservação da Amazônia, nessa empreitada.
“Eu já falei com o rei várias vezes sobre a necessidade de mobilizar mais financiamento privado (para a Amazônia). Como Londres é o centro financeiro do mercado verde, eu acho que, com o apoio do rei, a cidade seria um lugar muito importante para o Brasil buscar os investimentos privados que vai necessitar para enfrentar a situação (de combater o desmatamento)”, disse Al-Qaq.
Recursos privados são, sim, muito bem-vindos. Mas tão urgente quanto obter mais financiamentos é ter a certeza de que as instituições financeiras pararam de conceder empréstimos para atividades ligadas à devastação amazônica – como a pecuária.
Recentemente, 21 bancos brasileiros assinaram um protocolo da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) se comprometendo a negar crédito aos frigoríficos que comprarem gado de áreas desmatadas ilegalmente. A norma estipula que, até 2025, é obrigatório que os frigoríficos implementem um sistema de rastreabilidade e monitoramento para fornecedores diretos e indiretos, capaz de supervisionar a cadeia de produção na Amazônia Legal. Mas esse prazo pode ser acelerado.
Em artigo n’O Globo, Alexandre Mansur, do Instituto O Mundo que Queremos, e Paulo Barreto, do Imazon e do projeto Amazônia 2030, afirmam que o setor financeiro já dispõe do Radar Verde, uma ferramenta para avaliar o grau de transparência e compromisso dos frigoríficos contra o desmatamento associado à pecuária bovina. Segundo eles, basta adotá-la.
Hoje, os principais frigoríficos sabem de quem compram e se há embargos ambientais associados. Mas não rastreiam o animal desde o nascimento e pelas fazendas onde são criados e engordados. Portanto, não sabem se há desmatamento no rastro da carne que produzem.
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