Os negócios florestais podem alterar o cenário de destruição e pobreza da região amazônica, e algumas iniciativas nessa frente já estão em curso. Contudo, é preciso eliminar obstáculos que podem atrasar o avanço dos bionegócios
“Dos anos 1970 para cá foram desmatados 800 mil quilômetros quadrados, quase 16% do tamanho da Amazônia, e a população continua pobre e miserável. Não podemos repetir isso”. A avaliação do professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Márcio Holland, resume os efeitos econômicos da devastação da Floresta Amazônica. Ao contrário do que o discurso destruidor quer fazer crer, derrubar a vegetação não gera oportunidades. Pelo contrário: a ilegalidade beneficia poucos – e frequentemente fora do país –, em detrimento do sofrimento de muitos.
Por isso é tão importante repetir o “mantra” do desenvolvimento socioeconômico que somente a Floresta Amazônica preservada pode trazer. Não são “apenas” os benefícios ambientais para o todo o planeta – na verdade, mais que benefícios, uma necessidade para tentar estancar a crise climática na qual nos metemos. Estamos falando de recursos financeiros, capazes de dar uma vida digna às comunidades e aos Povos Indígenas da Amazônia. E também de alavancar a economia do Brasil.
“A Amazônia tem potencial de acrescentar US$ 150 bilhões ao PIB brasileiro até 2030 com um modelo de desenvolvimento econômico com base na economia da floresta”, detalhou Patricia Ellen, cofundadora da AYA Earth Partners e sócia da Systemiq Brasil. Ele participou do Especial Amazônia, debate promovido pela Exame do qual também participou Márcio Holland.
A importância de desenvolver a bioeconomia amazônica ainda foi destacada por Olinda Canhoto, gestora de projetos na Beta-I Brasil, outra participante do debate. “Existem alternativas ao extrativismo predatório que existe na região. Podemos transformar os materiais, agregar mais valor aos produtos”, explicou ela.
Iniciativas para estimular os bionegócios na região amazônica já estão em curso. Uma delas é a Jornada Amazônia. A plataforma atua para conectar empreendedores, parceiros, oportunidades, negócios e o povo amazônida para estimular a inovação na bioeconomia, com negócios que respeitem a floresta.
Dois programas da iniciativa – Gênese e Sinapse da Bioeconomia – abriram inscrições nesta quarta-feira (10/5). O primeiro quer estimular pesquisas orientadas a produtos e soluções de impacto, inserindo os talentos no empreendedorismo. Já o Sinapse pretende selecionar ideias inovadoras e originar até 70 novos negócios na Amazônia, cada um recebendo R$ 70 mil – ou seja, um investimento total de até R$ 4,9 milhões no ecossistema, de acordo com a PEGN.
Além de ampliar os investimentos e a capacitação de populações locais nos bionegócios amazônicos, é preciso agilizar alguns processos para dar segurança à inovação a partir dos recursos da Floresta Amazônica. Um deles diz respeito à propriedade intelectual.
O Correio Braziliense aponta gargalos no país no registro de patentes, que protegem o patrimônio genético de bioprodutos. Há uma antiga briga em relação ao tempo para análise. O advogado e especialista em Propriedade Intelectual, Direito Empresarial, Contratual e Eletrônico, Pedro Tinoco, destacou que é um processo complexo e moroso, que pode levar anos para ser concluído.
Sem patentes, o biomercado fica desprotegido; mas, com elas no formato atual, no que diz respeito ao tempo, a expectativa de acelerar os bionegócios pode não ocorrer no ritmo esperado – ou necessário.
Segundo o estudo “Mapeamento de tecnologias desenvolvidas a partir de bioinsumos da Amazônia”, do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), os maiores depositantes hoje no país são universidades, fundações e instituições de pesquisa (83%). As empresas respondem pelos 17% restantes, sendo a Natura a principal delas.
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