O desmatamento continuou alto no 1o trimestre, mas a doação dos EUA ao Fundo Amazônia pode ajudar a mudar o cenário. E por evitar a extração de cobre no território de seu povo, a líder indígena Alessandra Munduruku recebe o Prêmio Goldman de Meio Ambiente, o maior da categoria
Os esforços do governo federal em combater o desmatamento na Amazônia são inegáveis. Contudo, os resultados muitas vezes são pontuais e uma solução definitiva não acontece do dia para a noite. Afinal, em um território continental como é a Amazônia Legal, acabar com a devastação é tarefa árdua, trabalhosa e de médio e longo prazos. Sobretudo após os quatro anos de estímulo à ilegalidade ocorridos de 2019 a 2022.
Por isso, os números do último relatório do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) sobre o desmatamento na região preocupam, mas não surpreendem. Não se muda uma cultura estimulada por autoridades do dia para a noite. Assim, o primeiro trimestre registrou 867 km2 desmatados, atrás apenas do desmatamento registrado em igual período de 2021. Somente em março, a devastação triplicou, comparada a março de 2022, mostra o g1.
Se de um lado as notícias não são tão boas, de outro há sopros de esperança e possibilidades de mudar esse cenário. Isso se deve ao anúncio do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de que seu país quer doar US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões) ao Fundo Amazônia. Paralisado durante o governo anterior e reativado no início do governo Lula, o fundo é crucial para financiar ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento.
É verdade que o aporte dos recursos ainda depende de aprovação do Congresso dos EUA, onde Biden tem maioria no Senado, mas não na Câmara. Ainda assim, não se pode negar o avanço na proposta – mais precisamente, de dez vezes, lembra o UOL. Afinal, na visita de Lula à Casa Branca em fevereiro, o governo norte-americano anunciou uma “ajuda” de US$ 50 milhões. E sem data para ser feita.
O melhor é que a cifra para combater o desmatamento na Amazônia e em outras ações de preservação e combate às mudanças climáticas pode chegar a US$ 2 bilhões. Foi o que anunciou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Segundo a ministra, o assessor do governo norte-americano para assuntos do clima, John Kerry, afirmou que a contribuição de US$ 500 milhões é apenas a fase inicial de alocação de recursos, relata a Agência Brasil.
Outra excelente notícia para os povos da floresta é o Prêmio Goldman de Meio Ambiente, considerado o “Nobel” da área ambiental, de acordo com a BBC, que foi concedido à líder indígena Alessandra Korap Munduruku nessa segunda (24/4). Ela foi agraciada por ter organizado, em 2021, uma campanha de mobilização em sua aldeia para evitar que a mineradora britânica Anglo American extraísse cobre dentro da Terra Indígena Sawré Muybu, no Pará. A ação também contou com auxílio de entidades como a Articulação dos Povos Indígenas (APIB) e da ONG Amazon Watch.
“Quem tem direito ao território são sempre aqueles caras que usam gravata, assinam os papéis e têm a caneta. Os não indígenas chegam fazendo um mapeamento e dizendo que a terra é deles, mesmo sabendo que não é. Só acreditam no papel deles, enquanto nós que vivemos lá há muito tempo não temos direito ao território. Sinto que os indígenas só têm direito a algo se não usarem roupa, não tiver acesso à internet nem educação”, disse Alessandra ao O Globo.
Além da líder Munduruku, foram premiados Chilekwa Mumba (Zâmbia), Zafer Kizilkaya (Turquia), Tero Mustonen (Finlândia), Delima Silalahi (Indonésia) e Diane Wilson (Estados Unidos).
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