O uso de fontes renováveis para gerar energia elétrica em áreas remotas da Amazônia é possível e viável, mas muitas localidades ainda usam diesel poluente para ter eletricidade.

Desde o ano passado, as quase 30 famílias da comunidade Terra Firme, às margens do rio Madeira e a duas horas de barco de Porto Velho, capital de Rondônia, dispõem de energia elétrica 24 horas por dia, sete dias por semana. O “feito” foi possível graças à instalação de painéis solares e baterias para armazenamento de energia nas residências. A estrutura foi implementada pela (re)energisa, braço de energia renovável do Grupo Energisa.

A companhia implantou um projeto similar no Acre, próximo à fronteira com o Peru, em uma comunidade chamada Vila Restauração. Lá, combina painéis solares e geradores a biodiesel. A iniciativa ganhou um prêmio no “Solar & Storage Live Awards”, em 2022, de melhor projeto internacional de painel solar, conta o Mongabay, em matéria também reproduzida pelo UOL.

Levar energia elétrica a comunidades amazônicas é um grande desafio, pelas distâncias em relação à rede básica – que conecta a maior parte do país. Contudo, além dos projetos da Energisa, outros, liderados por Organizações Não-Governamentais (ONGs), mostram que é possível garantir fornecimento elétrico sem interrupções. E melhor: com fontes renováveis.

Ainda de acordo com a reportagem da Mongabay, a Foundation for Amazon Sustainability, por exemplo, instalou painéis solares na vila de Santa Helena do Inglês, no rio Negro, a 60 quilômetros de Manaus, no Amazonas. Já a WWF Brasil montou um projeto solar na região da Vila Limeira, em Lábrea, no sul do estado – região que apresenta altos níveis de desmatamento. E desde 2018 o Instituto Socioambiental (ISA) trabalha com as comunidades indígenas do Xingu, no Pará, em um projeto de energia solar.

O problema é que essas iniciativas ainda são tão isoladas quanto as comunidades por elas atendidas. A maioria dessas localidades longínquas – chamadas de “sistemas isolados” no âmbito do planejamento energético brasileiro – continua utilizando energia elétrica a partir de geradores movidos a óleo diesel. Além de muito mais caro, muito mais poluente.

Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), há no país, atualmente, 212 sistemas isolados. À exceção da Fernando de Noronha, todos estão na Região Norte, em seis estados. Juntos, representam apenas 0,6% da carga elétrica nacional, como aponta artigo de Lucas Ribeiro, economista e gerente de Regulação da Eneva, na epbr.

Entretanto, para atender a essas localidades, toda a população paga – e muito caro. O custo é justamente com os combustíveis fósseis usados para gerar a energia elétrica, por meio da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC). Para este ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) projetou um valor de R$ 12 bilhões, cobrado nas contas de luz de brasileiras e brasileiros. É muito mais do que os R$ 5,6 bilhões previstos para pagar a tarifa social, que concede descontos para consumidores de baixa renda, mostra o g1.

É inquestionável a necessidade das populações isoladas de receber energia elétrica de modo contínuo, com segurança. Contudo, garantir esse abastecimento com combustíveis fósseis, em plena Floresta Amazônica, mostra-se um contrassenso. Ainda mais diante de iniciativas bem-sucedidas com fontes renováveis.


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