Pesquisadores tentam encontrar o ponto de não retorno da Floresta Amazônica, quando o ecossistema poderá emitir mais gases de efeito estufa do que absorvê-los. Seria um ciclo vicioso: afetada pela devastação e pelas mudanças climáticas, a floresta – na verdade, o que restar dela – agravaria ainda mais o aquecimento global

Haverá algum momento em que a devastação da Floresta Amazônica fará o bioma sofrer uma “virada”, emitindo mais gases de efeito estufa (GEE) do que os absorvendo? Uma das respostas para esta pergunta veio de pesquisadores de Brasil, Canadá, China, Estados Unidos e Reino Unido. Um estudo, publicado no Reviews of Geophysics, indica que as mudanças climáticas estão levando a Amazônia a se aproximar de um limiar crítico. A partir desse ponto, a floresta poderá produzir emissões adicionais de gases de efeito estufa, agravando o aquecimento global.

Os pesquisadores analisaram problemas gerados pelas mudanças climáticas em dez ecossistemas globais e que terão grande impacto no planeta – um deles, a Floresta Amazônica. A partir do conhecimento já produzido por outros pesquisadores, tentaram estimar os chamados “tipping points“, ou pontos de inflexão. São os “pontos de não retorno climático”, quando haveria impacto irrecuperável aos sistemas, relata o UOL.

No caso da Floresta Amazônica, o estudo menciona que a precipitação na região vem caindo, e que a duração da estação seca vem crescendo. São pontos “diretamente ligados à saúde de um sistema de floresta tropical”, dizem os cientistas. Portanto, é necessária uma política de manejo florestal para “determinar o futuro da Amazônia” e não deixar que ela se transforme em uma savana, reforçam os pesquisadores.

A pesquisa ressalta que a duração da estação seca aumentou no Sul e no Oeste da Amazônia, e houve maior contraste entre a estação seca e chuvosa. O número de meses com déficit hídrico cresceu, e a temperatura aumentou de 1,6°C e 2,5°C do oeste para o sul da Amazônia entre os meses de agosto e outubro nos últimos 40 anos.

Modelos apontam que um aumento de temperatura entre 3° e 4°C, ou uma diminuição da precipitação de 30% a 40%, seriam os limites capazes de iniciar o ponto de não retorno, como apontou Paulo Artaxo, em artigo no PlenaMata.

Segundo uma das autoras do estudo, a pesquisadora Liana Anderson, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), ainda é necessário um maior entendimento sobre as consequências das mudanças climáticas para cravar um ponto de não retorno na Amazônia. Entretanto, ela ressalta que ele chegará, se nada for feito.

“A Amazônia é como uma bomba de água que a devolve à atmosfera, alimentando chuva em outras áreas do Brasil e na América do Sul. ‘Quebrando’ essa bomba, você diretamente diminui a quantidade de chuva em regiões que têm importância econômica grande, como os cinturões de plantações de Brasil, Uruguai e Argentina”, explica.

A limitação do potencial da Floresta Amazônica de absorver CO2 é um dos projetos desenvolvidos por cientistas no Acampamento 41, mostra a Folha. O 41 faz parte de uma rede de acampamentos em meio às árvores da floresta. Neles, os pesquisadores se instalam por longas temporadas para descobrir as interações entre a Amazônia e as mudanças no clima.

Idealizado pelo biólogo americano Thomas Lovejoy (1941-2021) e outros ambientalistas, o espaço é o berço de projetos como o Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, que é desenvolvido há mais de 40 anos pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).


Este conteúdo pode ser republicado livremente em versão online ou impressa. Por favor, mencione a origem do material. Alertamos, no entanto, que muitas das matérias por nós comentadas têm republicação restrita.

Aqui você encontra notícias e informações sobre estudos e pesquisas relacionados à questão do desmatamento. O conteúdo é produzido pela equipe do Instituto ClimaInfo especialmente para o PlenaMata.

Se você gostou dessa nota, clique aqui e assine a Newsletter PlenaMata para receber o boletim completo diário em seu e-mail.