Levantamento do MapBiomas mostra a existência de 75 pistas clandestinas usadas por garimpeiros para receber insumos e escoar extração ilegal na reserva

A mineração ilegal na Amazônia possui tentáculos que vão para além dos rios que cortam a floresta. O escoamento da produção, bem como o transporte de alimentos e insumos para abastecer o garimpo criminoso em Terras Indígenas (TIs) ocorre prioritariamente pelos ares.

Dados do MapBiomas, coletados a partir de imagens de satélites, revelam a existência de 75 pistas clandestinas na TI Yanomami, como mostra a Folha. Um terço delas fica localizado a cinco quilômetros de garimpos.

N’O Globo, o repórter Rafael Garcia destacou que metade das pistas de pouso em áreas protegidas do território amazônico são clandestinas. Foram mapeadas, ao todo, 2.869 pistas dentro da Amazônia, de acordo com o Metrópoles. Esse montante representa mais do que o dobro do total registrado na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Ao todo, 804 encontram-se em Unidades de Conservação e TIs.

Nesse sentido, o governo federal atingiu em cheio o coração da operação ilegal ao restringir o espaço aéreo na TI Yanomami, medida que foi flexibilizada nesta semana, de acordo com a Agência Brasil. Na segunda (6), a Força Aérea Brasileira (FAB) anunciou a reabertura parcial, por uma semana, do espaço aéreo na região para permitir “a saída espontânea dos garimpeiros”, antes da megaoperação do governo federal para a retirada do garimpo em território Yanomami.

A Folha mostrou, ainda, que outras reservas indígenas nas quais a extração de minérios corre solta, a despeito da ilegalidade, também estão desenhadas por pistas de pousos. É o caso da TI Raposa Serra do Sol, situada em Roraima, onde foram identificadas 58 pistas clandestinas. Entre os top-5 do ranking de Terras Indígenas com mais pistas estão, ainda, as TIs Kayapó (26) e Munduruku (21), ambas situadas no estado do Pará, e o Parque do Xingu (21), no Mato Grosso.

 “Na TI Munduruku, a relação de proximidade com a mineração ilegal aumenta: 80% das estruturas estão a 5 km ou menos de distância de algum garimpo”, como destaca a jornalista Jéssica Maes.

Reportagem publicada pelo portal Sumaúma na segunda-feira (6) revela que a contaminação por mercúrio entre os Munduruku está generalizada. Após visita à aldeia Katõ, às margens de um afluente do rio Tapajós, no Pará, a equipe de jornalistas constatou que, infelizmente, o drama vivido pelo Povo Yanomami ocorre também em outras reservas.

“Tá todo mundo contaminado. Crianças, velhos, grávidas. Algumas nasceram cegas, outras com dificuldade de andar. Os jovens têm dificuldade para se concentrar nos estudos. Não temos o resultado dos exames, mas a gente vê”, disse à reportagem Rosinaldo Saw Munduruku, 45 anos, técnico de enfermagem da aldeia Katõ.

Diante da infraestrutura criada para operacionalizar o garimpo ilegal, que dissemina fome e devastação ambiental em Terras Indígenas, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reiterou que o foco de atuação do governo federal irá para além da retirada dos garimpeiros. Vai priorizar também a identificação dos financiadores do garimpo ilegal em Áreas Protegidas.

“Você consegue imaginar o garimpeiro que carrega a trouxa de lama na cabeça, que é ele que compra aqueles equipamentos, que tem como fornecer o combustível, que fornece a cadeia de alimentos, a infraestrutura de avião?”, questionou ela, durante a posse do novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloísio Mercadante, na segunda-feira. A nota do ClimaInfo deu destaque à informação, publicada também em diferentes veículos de imprensa.


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