Mais de mil indígenas foram resgatados, o governo federal iniciou a distribuição de cestas básicas, e a PF instaurou inquérito para investigar o caso
O vai-e-vem de aeronaves está movimentando o espaço aéreo amazônico, nesta semana, em Roraima e no Amazonas. São aviões da Força Aérea Brasileira que, por um lado, transportam emergencialmente pacientes em estado grave de saúde, da Terrra Indígena Yanomami para Boa Vista, capital de Roraima, e, do outro, levam cestas básicas e medicamentos a áreas isoladas e cercadas pelo garimpo ilegal.
O Jornal Nacional acompanhou a operação na terça-feira (24), mostrando imagens de mantimentos e remédios sendo arremessados pelos ares com o auxílio de paraquedas, na região do aeródromo de Surucucu, em Alto Alegre, no interior da TI Yanomami. Mais de 17 toneladas de alimentos já foram distribuídas.
Segundo Ricardo Weibe Tapeba, secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, “o cenário é de guerra, de horror, de medo e de morte”, como destacou a jornalista Daniela Chiaretti, no Valor.
Em entrevista ao repórter Luciano Abreu, do JN, Tapeba afirmou que o Estado brasileiro estava de costas para o território e para o Povo Yanomami. O jornalista destacou que a área desmatada pelo garimpo ilegal na TI cresceu 46%, entre 2020 e 2021, e mais do que dobrou nos quatro anos do governo Bolsonaro. Passou de 1,2 mil hectares, em 2019, para 3,2 mil hectares, em 2022. “O garimpo destrói a floresta, espanta a caça, contamina os rios e dificulta o atendimento de saúde”, reportou.
Nos últimos dias, mais de mil indígenas foram resgatados e receberam tratamento emergencial. A Casa de Saúde Indígena, em Boa Vista, está superlotada, com mais de 700 pacientes. Doze profissionais da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) foram deslocados para a região para apoiar no atendimento, e um hospital de campanha deverá ser finalizado até sexta-feira (27) para reforçar o atendimento.
A Folha repercutiu a informação do presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, de que 120 das 378 comunidades do território estão em calamidade, e quase metade dos 30 mil Yanomamis da TI está doente naquelas aldeias que estavam sem assistência.
Porém, algumas localidades continuam isoladas por estarem invadidas por garimpeiros armados, que “não se intimidam nem com a presença da FAB”, como revelou Tapeba. Ele falou da necessidade de articulação de ações efetivas de retirada dos garimpeiros para que eles não consigam mais voltar. O JN reproduziu trechos das entrevistas de Hekurari e Tapeba.
Além de participação no plano para retirada dos garimpeiros da TI, a Polícia Federal também vai investigar possível genocídio contra os Yanomamis. Conforme o UOL, o inquérito foi aberto nesta quarta (25).
Em sua coluna em O Globo, Bernardo Mello Franco classificou de “vingança” o que Bolsonaro fez com o Povo Yanomami. Franco recuperou dados históricos, desde 1991, da luta do ex-presidente contra a demarcação da TI e a favor da exploração de riquezas na região. Essa foi uma das suas lutas ao longo dos sete mandatos como deputado federal. “Em 1998, o [então] deputado chamou o Exército de ‘incompetente’ por não ter aniquilado os Povos Originários”, destacou o colunista.
Já o jornalista Bruno Boghossian disse na Folha que a crise humanitária vai muito além de omissão. Está relacionada a “uma sequência consistente de decisões e estímulo ao garimpo” por parte do ex-presidente Bolsonaro. Segundo o colunista, esses fatores “ampliaram o risco histórico à saúde indígena”.
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