Secretário-geral da ONU diz que a ação humana é uma “arma de extinção em massa” e propõe um “pacto de paz com a natureza”

No discurso de abertura dos trabalhos da COP da Biodiversidade (COP15), na terça-feira (7/12), em Montreal, no Canadá, António Guterres, secretário-geral da ONU, foi enfático ao dizer que o crescimento econômico sem limites colocou um milhão de espécies em risco de extinção. Ele lembrou que estamos cometendo um suicídio, pois a  “perda da natureza e da biodiversidade tem alto custo humano”, com diminuição de empregos, fome, doenças e mortes, além de custos econômicos estimados em 3 trilhões de dólares anuais até 2030, devido à degradação dos ecossistemas. “Sem a natureza, não temos nada. Sem a natureza, não somos nada”, disse Guterres, cobrando que os líderes globais dos 196 países terminem o encontro multilateral com um acordo global para a proteção da biodiversidade. Recomendou, ainda, ações concretas como o desenvolvimento de planos de ações nacionais robustos que redirecionem recursos hoje destinados a subsídios e isenções fiscais para atividades destruidoras da natureza, reconheçam os direitos dos Povos Indígenas e das comunidades locais e ajudem a financiar a proteção da biodiversidade.

O evento é estratégico para o futuro de ecossistemas como os da Amazônia, dos oceanos e das florestas da África e da Ásia. Entretanto, do ponto de vista prático, o que a COP vai trazer como resultados ainda está em aberto. O evento termina no próximo dia 19. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, mencionou a importância da proteção de pelo menos 30% dos territórios terrestre e marinho até 2030. Essa meta, que estará na mesa de debates, é chamada de plano “30×30”. 

Apesar da importância da COP15, alguns analistas que acompanham de perto as negociações estão céticos sobre os resultados. “A meta atual de preservar 30% até 2030 está desatualizada e não condiz com as novas evidências científicas. Pior que isso é a perspectiva de alguns países, como o Brasil, de que esta possa ser uma meta nacional. Conservar apenas 30% do território brasileiro, por exemplo, seria terrível para a Amazônia e para o mundo, é um retrocesso sem tamanho”, diz Diego Casaes, diretor de campanhas da Avaaz, em entrevista à jornalista Daniela Chiaretti, no Valor. O texto aponta para os desafios gigantescos que serão enfrentados nas negociações dos próximos dias da COP15, que possui impasses e corre o “risco de naufragar”. As principais discussões ainda estão travadas. Sem consenso não há avanço no mundo diplomático. Outro ponto importante, também, é sobre quem pagará a conta. Tanto que existem ideias práticas, como a dos “biocréditos” que estão sendo analisadas.

Nesta entrevista no ((o))eco, o pesquisador Bráulio Dias, um dos maiores especialistas em conservação da biodiversidade do mundo, detalha um pouco mais sobre a agenda da COP15. Em relação ao Brasil, o professor da UnB mostra-se otimista, ainda mais com a mudança de governo. O pesquisador também destaca que proteger ecossistemas terrestres e aquáticos, como os da Amazônia, também representa evitar o surgimento de novas crises sanitárias.Se o resultado da COP15 surpreender e seguir as bases propostas por António Guterres em seu discurso de abertura, o acordo global vai representar um compromisso histórico para a biodiversidade na linha do que foi o Acordo de Paris para a questão climática. O portal Um Só Planeta traçou um paralelo histórico entre as COPs do Clima e da Biodiversidade. Ambas podem ser consideradas “irmãs gêmeas”, pois nasceram na Rio-92, no Brasil. O UOL também explorou as interconexões entre as crises do clima e da biodiversidade.


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