Resultados e saídas práticas, ao invés de projetos ou discursos vazios, serão cada vez mais cobrados seja por consumidores ou pelo mercado

Tende a ser apenas a ponta do iceberg, mas não deixa de ser importante a notícia recente divulgada pelo Reset sobre a multa aplicada pela Securities and Exchange Commission (SEC) sobre a gestora de recursos do banco Goldman Sachs. 

Segundo o órgão que regula os mercados de capitais norte-americanos, entre 2017 e 2020, foram detectadas infrações nas regras de fundos baseados em critérios ambientais, sociais e de governança do grupo. A multa de US$ 4 milhões – até pequena em relação ao montante de US$ 1,5 trilhão sob administração do grupo – não deixa de mostrar o endurecimento da SEC em relação ao tema ESG. 

Uma das irregularidades, por exemplo, era o fato de que a avaliação ESG de duas empresas presentes em um dos fundos sob gestão havia sido feita depois das empresas terem sido listadas no próprio fundo.

O assunto greenwashing, ou seja, ações ambientais mais cosméticas do que práticas está cada vez mais presente. Tanto que a própria ONU está atenta ao problema, como destaca a jornalista Daniela Chiaretti no Valor. Durante a COP27, no Egito, houve o lançamento de um relatório de 42 páginas exatamente com a intenção de orientar uma correção de rota para as empresas que andam fazendo planos net-zero insossos. 

“A intenção do estudo é profunda e pretende liquidar a maquiagem verde que contamina o setor privado com promessas vãs – planos que não demonstram cortes reais nas emissões, não têm transparência, não são comparáveis nem nada”, escreve Daniela. 

António Guterres, secretário geral das Nações Unidas, se empenhou pessoalmente na criação de um grupo de especialistas para debater o tema e montar o estudo. “Os critérios para estes compromissos net-zero têm lacunas tão grandes, que até um caminhão-tanque de petróleo consegue passar por eles”, afirmou o líder português no lançamento do relatório.

Se a maquiagem verde é um problema grave no mundo corporativo e no mercado de capitais – setores cada vez mais voltados para as exigências do consumidor do século 21, que não quer ver o seu dinheiro atrelado a marcas que poluem, estimulam o trabalho escravo ou a violência racial e de gênero, por exemplo -, o mesmo raciocínio pode ser feito para os governos nacionais.

Por mais que no Egito a participação do presidente eleito do Brasil ter mostrado uma mudança de rota em relação à política ambiental brasileira, não vai adiantar de nada se o discurso apresentado ao mundo não for seguido de resultados práticos e de programas que realmente levem a proteção ambiental e o desenvolvimento socioeconômico até a ponta da cadeia. Ou seja, às comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas, não necessariamente nessa ordem.

Como diz na Folha Rubens de Siqueira Duarte, professor de Relações Internacionais e coordenador do Labmundo, o que foi feito nos últimos anos enfraquece a soberania nacional: “Com o aumento do desmatamento ilegal, do garimpo predatório, do assassinato de ativistas ambientais, da ação das madeireiras, bem como avanço de grupos criminosos como o Primeiro Comando da Capital (PCC) na região Amazônica, a imagem que o Brasil passa para o mundo é a de um país incapaz de implementar o Estado de Direito e políticas públicas eficazes. Com isso, a percepção que outros atores internacionais vão ter ao olhar para o país é de fragilidade”, diz o pesquisador brasileiro.

São vários os caminhos que podem ser seguidos em regiões como a Amazônia para fortalecer o desenvolvimento da região. Um singelo exemplo citado no site Mongabay pelo jornalista Sean Mowbray, é apenas um entre as inúmeras possibilidades que existem: estudiosos do Sauá-de-vieira, primata que vive na região do arco do desmatamento amazônico e está sob ameaça crítica, apontam o turismo de observação, assim como ocorre com as aves, como uma saída, mesmo ela estando longe de ser a grande solução de todos os problemas.

“Acho que [a observação de primatas] poderia ser um projeto ou proposta muito atraente que poderia ser uma ideia para pelo menos minimizar o problema”, disse Felipe Ennes Silva, primatologista do Instituto Mamirauá ao Mongabay. “A solução real é muito mais complexa, mas a observação de primatas poderia ser algo a ser agregado neste conjunto de soluções”, afirma o cientista.

Caminhos reais e práticos para a Amazônia também são debatidos no podcast “Isso também é floresta” da Partnerships for Forests. Assim como muitas empresas voltadas para a área de inovação, como relata reportagem do O Globo, estão atrás de soluções factíveis para a região norte do país.


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