Início da COP27, Reunião Climática da ONU, é marcado por ausências de grandes líderes, mas por uma pequena vitória dos países mais vulneráveis.

Em grandes encontros regidos pelas regras da diplomacia internacional – caso da COP27, Reunião do Clima que começou neste domingo às margens do Mar Vermelho, no Egito –, a distância entre expectativa e realidade é sempre fonte de muita preocupação. Portanto, a primeira vitória dos países mais vulneráveis merece ser comemorada, por mais que ela já fosse esperada para os inícios dos trabalhos. Como mostram Phillippe Watanabe e Ana Carolina Amaral na Folha, os representantes dos Estados adentraram a madrugada de sábado para domingo debatendo o detalhamento do financiamento para perdas e danos. Mas não significa que o mecanismo já esteja aprovado, muito longe disso, ele apenas foi incluído na agenda oficial do evento. E, portanto, nas próximas duas longas semanas, existe a expectativa de que algo, neste tema, seja definido. “É a primeira vez que o financiamento associado ao tema entra oficialmente na agenda de uma COP”, ressaltaram os jornalistas brasileiros.

“A questão das perdas e danos precisa ser propriamente abordada, e o tempo chegou para o fazermos. Os países, especialmente os mais vulneráveis e menos desenvolvidos, precisam receber o apoio necessário para atingir suas metas climáticas. Dinheiro é a questão crítica para lidar com a magnitude da crise”, afirmou Simon Stiel, secretário-executivo da convenção-quadro da ONU para mudança climática, que, na cerimônia de abertura, citou o sofrimento de comunidades devido aos efeitos da crise do clima. O tema está longe de ser banal. Entre outros motivos, porque os países desenvolvidos têm receios de que os mecanismos de perdas e danos acabem sendo atrelados a algum tipo de pensamento compensatório, o que fatalmente aumentaria a conta a ser paga.

A falta de solidariedade no combate à crise climática, certamente, é um pacto de suicídio coletivo, afirmou António Guterres, secretário-geral na ONU, na abertura oficial da cúpula dos líderes da COP27, no balneário de luxo Sharm el-Sheikh. O diplomata português, como vem fazendo há anos em seus discursos, voltou a dar bastante ênfase ao que o planeta está vivendo na questão climática. “O mundo está no caminho para o inferno climático com o pé no acelerador”, afirmou Guterres, como registrou o jornal O Globo. O secretário-geral da ONU voltou a cobrar mais ambição.

“Os países desenvolvidos devem assumir a liderança, mas as economias emergentes também são críticas para que mudemos a curva global de emissões. Todos os países devem fazer um esforço extra para reduzir as emissões nesta década, alinhados com a meta de 1,5°C.” Acima desse teto do aumento médio da temperatura global mencionado por Guterres, as consequências das mudanças climáticas serão cada vez mais graves, principalmente para os países mais pobres, como atestam milhares de estudos.

Após as negociações iniciais e os primeiros discursos oficiais – além de Guterres, o presidente egípcio Abdel Fattah el-Sisi, que comanda uma ditadura no país, também falou – segunda e terça-feira são tradicionalmente marcadas pela reunião dos líderes mundiais. O evento, desta vez, como descreve Sérgio Teixeira Jr. no Reset, foi apelidado de “Cúpula da Implementação”. São esperados cerca de 110 chefes de Estado e de governo. Mas a lista tem também ausências importantes: Vladimir Putin, em guerra; Xi Jinping, que continua recluso em seu país desde o início da pandemia, e Joe Biden, por causa das eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, não viajaram. No caso do presidente americano ele confirmou presença para a segunda semana das negociações oficiais. A COP27 acaba no dia 18 de novembro.

A ida de Bolsonaro, mesmo antes de perder as eleições, não chegou a ser cogitada. Além disso, o pavilhão oficial do governo brasileiro montado no Egito fez questão de esconder a Amazônia, por motivos óbvios. Mas, em compensação, o consórcio de governadores da Amazônia Legal também está com um espaço oficial no evento, onde as discussões sobre o desenvolvimento sustentável da região devem ocorrer.

Um estudo, lançado no dia do início da COP 27, deve ajudar a dar contexto às negociações em curso no Egito. O Valor, além de outros veículos de comunicação, registrou que os últimos oito anos estão a caminho de serem os mais quentes já registrados pelos sistemas de monitoramento mundiais. Os dados constam de um estudo da Organização Meteorológica Mundial. De acordo com a OMM, a temperatura média mundial aumentará cerca de 1,15°C em 2022 acima da marca pré-industrial. A agência da ONU também alerta que ondas de calor extremas, secas e inundações devastadoras afetaram milhões de pessoas e custaram bilhões de dólares somente este ano.


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