Lula, ao tomar posse, terá que tratar com as várias matizes do setor produtivo rural

A posição da Federação das Associações Rurais do Estado de São Paulo após o resultado das eleições, como registrou o Valor, dá um dos tons do que o futuro governo federal enfrentará se quiser avançar com o desenvolvimento sustentável e a proteção das florestas. Sem parabenizar Lula, o texto da nota assinada por Fábio de Salles Meirelles, presidente das entidades, tem expressões como “respeito” e “diálogo”.

A FAESP/SENAR também pede a manutenção legítima do direito de ir e vir, do direito à propriedade privada, da garantia da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável – apesar do conceito do setor produtivo nem sempre coincidir com a melhor ciência. “Que sigamos sem sobressaltos. Aproveito para destacar que estamos certos de que o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, poderá contribuir para que avancemos mais ainda, sem qualquer retrocesso”, afirma, de forma escrita, Meirelles. O líder setorial também faz questão de frisar a importância do agronegócio nacional, responsável por 27% do PIB.

Mas dentro do próprio setor produtivo rural, há quem defenda um tom mais amistoso, como é o caso do empresário Marcello Brito, registrou a Folha. Na visão dele, dentro do setor, muita gente tomou partido da democracia. Passada a eleição, entretanto, é hora de uma relação amistosa, uniforme e de reintegração do Brasil no mundo, diz. “Um dos pontos positivos desta eleição foi o reconhecimento do resultado imediato de vários parceiros comerciais do Brasil logo após o pleito, como França e Estados Unidos. A demora do presidente Jair Bolsonaro em se manifestar, porém, é preocupante para a democracia”, afirma Brito.

Sobre o desmatamento em si, o empresário diz que a vida de Lula não será fácil por causa dos desmontes das instituições. Será preciso montar um programa de médio e longo prazos para ser cumprido aos poucos. E se tudo for feito, diz ele, os louros só serão colhidos pelos próximos governos.

Como ainda reconhece o próprio empresário e ex-presidente da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), o cenário do agronegócio não será tão pujante como o dos últimos anos e o governo vai enfrentar dificuldades pela frente. E será preciso entender que se trata de uma frente ampla que foi eleita.

Diante das várias facetas do agronegócio nacional, a habilidade política do governo federal será importante para o avanço de acordos internacionais com os grandes blocos econômicos mundiais, todos importantes para o setor produtivo rural. Um dos nós que precisa ser desatado é com a própria União Europeia. Os europeus deixaram claro, por meio de legislações sobre o tema, que não vão comprar produtos ligados à destruição florestal. Essa reportagem do InfoAmazonia aborda o tema.

Como registra outra reportagem da Folha, a questão climática e ambiental pode ser um dos pilares das relações internacionais do país a partir de agora. O Brasil sempre teve muito protagonismo em reuniões internacionais, inclusive sobre biodiversidade. A saída da extrema direita do poder, que sempre jogou contra os assuntos ambientais, já surtiu efeitos imediatos, assim como a volta de um governo mais à esquerda. Na manhã da terça-feira (1/11), o presidente eleito, por exemplo, foi convidado pela própria organização da COP do Clima, que começa oficialmente domingo (6) no Egito, para participar da reunião, como registra o portal Metrópoles.


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