Sem políticas ambientais robustas, queimadas e toda a destruição da biodiversidade vão agravar as mudanças climáticas e aumentar a chances de novas epidemias

O cenário atual, nada animador, pode ser um prenúncio também ruim do que virá pelos próximos dez anos, pelo menos, em relação às mudanças climáticas e à destruição da Amazônia. Como mostra o portal g1, o mês de setembro teve índices bastante negativos em relação às queimadas na região.

A Amazônia perdeu mais de 1 milhão de hectares para o fogo, um aumento de 71% em relação ao mesmo mês de 2021 – o maior aumento já registrado. O  acumulado nos primeiros nove meses do ano foi 40% maior do que no mesmo período no ano passado; uma perda de mais de 1,6 milhões de hectares.

“É importante ressaltar que esse aumento da área de incêndios florestais na Amazônia em 2022 é um péssimo indicador para a região, pois essas florestas não são adaptadas ao fogo e acabam ficando mais suscetíveis a novos incêndios, se tornando degradadas”, diz Ane Alencar, Coordenadora do MapBiomas Fogo e Diretora de Ciência do IPAM, ao g1.

A forma como o atual governo vem tratando o meio ambiente, seja na Amazônia ou em outras regiões do país, vem chamando a atenção de vários líderes da sociedade brasileira. Até mesmo Dom Leonardo Steiner, Cardeal de Manaus, demonstrou sua preocupação nesta entrevista ao jornal O Globo. “A depredação da Amazônia preocupa. O governo não tem feito muito coisa, eu diria que até tem incentivado, por meio das palavras, o descuido em relação à Amazônia”, afirmou a liderança religiosa ao repórter Ivan Martínez-Vargas.

Uma possível reeleição do governo Bolsonaro preocupa especialistas dado o que ocorreu nos últimos quatro anos tanto em termos de queimadas quanto de desmatamento e, em especial, quanto às consequências a  longo prazo. 

A destruição em ritmo acelerado da floresta, como também revela um novo estudo científico abordado pela Folha, abre muitas brechas para que novas epidemias possam se espalhar novamente pelo mundo nos próximos anos. O trabalho feito por Joel Henrique Ellwanger, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), revisou centenas de pesquisas sobre a relação entre zoonoses (doenças transmitidas de animais ao homem) e desequilíbrios ambientais. “Estamos lançando um alerta com esse artigo”, disse o cientista ao repórter Marcelo Lima Loreto.

Para o pesquisador, existem “riscos elevados” de surgimento e reemergência de doenças infecciosas a partir da Amazônia. E, como mostra a pesquisa, a lista de doenças que tiveram origem em animais e provocaram casos, surtos ou epidemias relevantes na Amazônia e fora dela é extensa. Entre elas, raiva, malária, dengue, chikungunya, zika, oropouche, mayaro, encefalite de Saint Louis, leptospirose, hanseníase, chagas e filariose.

A tese que emerge da pesquisa, segundo os cientistas, é que se a biodiversidade da floresta amazônica é uma potencial fonte de doenças, por outro lado, ela também impede que elas saiam do controle.

E, no médio e longo prazos, esse modus operandi a favor do desmatamento e da perda de biodiversidade vai aumentar a participação brasileira nas emissões de gases de efeito estufa, com o metano.Como mostra mais um mapeamento feito pelo Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, principal rede da sociedade brasileira sobre agenda do clima, com 77 organizações, manter as atuais políticas ambientais vai fazer com que o Brasil, até 2030, emita 7% mais metano do que emitia em 2020. O que agravaria as consequências das mudanças climáticas globais. Além dos impactos regionais significativos, que diminuiriam a qualidade de vida das populações locais.

Mas, como relata a repórter Daniela Chiaretti no Valor, o mesmo relatório que acaba de ser divulgado, mostra que o Brasil tem todo o potencial de reduzir em 36% suas emissões de metano até o fim da década. Mas, para isso, será preciso mudar de forma substancial sua política ambiental. O que significa fazer um controle rígido do desmatamento, erradicar seus lixões e ampliar práticas sustentáveis já em curso na agropecuária, com o intuito de reduzir em 50% a emissão de metano.

“Temos pela primeira vez um mapa do caminho para cortar as emissões de metano nacionais. Todas as medidas mapeadas no estudo trazem ganhos econômicos”, diz Tasso Azevedo, coordenador técnico do SEEG, na nota enviada à imprensa.


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