Especialistas dão contornos sobre o que pode emergir das urnas, qualquer que seja o resultado do segundo turno
Em artigo publicado pelo DWBrasil, o jornalista Alexander Busch afirma que, após o primeiro turno, e independentemente do que ocorrer no segundo turno, a Amazônia já perdeu as eleições. “Não só por Lula não ter alcançado no primeiro turno a maioria absoluta que alguns institutos de pesquisa de opinião haviam previsto, mas porque nas eleições gerais, realizadas paralelamente, os conservadores tiveram vitória esmagadora. Agora ficaram significativamente menores as chances de que os incêndios amazônicos diminuam ou que se intensifique a proteção aos Povos Indígenas, mesmo que Lula se torne presidente”, defende o colunista especialista em América do Sul.
No texto, Busch sustenta sua tese em quatro pilares. O primeiro é que a maioria de deputados e senadores eleitos por Bolsonaro deverão sustentar o discurso antiambiental qualquer que seja o novo presidente. O segundo motivo tem a ver com a necessidade que um eventual governo Lula terá em compor com o Centrão do Congresso, o que significa dar algumas moedas de troca a partir de agenda ambiental.
Busch vai além: “Em terceiro lugar, nos estados da região com as taxas de desmatamento mais altas, venceram os governadores que apoiam Bolsonaro. Até agora, Lula só tem ao seu lado os líderes de Amapá, Pará e Maranhão”. O quarto pilar: para muitos brasileiros, a preservação da floresta amazônica não é tão importante no momento. “Gestão ambiental rende poucos votos no país”, afirma o articulista.
A análise da pesquisadora Luciana Gatti, do INPE, publicada pela Agência Pública, é ainda mais sombria. Segundo ela, que estuda a Amazônia há quase duas décadas, a situação atual é motivo de indignação. “Não vamos só perder a Amazônia. Vai ser uma calamidade no Brasil, vai ser a quebradeira do agronegócio, o aumento de eventos extremos. Um monte de gente vai morrer, perder tudo”, alerta a cientista, caso a visão de mundo que se tem hoje no país sobre a região não mude. “As pessoas têm que entender cada árvore como um climatizador natural. Têm que entender que a floresta não é desperdício de terra, é fábrica de chuva e de água.”
Segundo Luciana o caminho que deve ser seguido é conhecido de todos, o problema é ter força de vontade política para segui-lo. “A visão do Brasil que eu tenho é a de um avião indo para o abismo. O piloto kamikaze, o capitão Bolsonaro, levando todo mundo para o abismo e o povo lá: “que friozinho na barriga, esse piloto é bom”, diz. Para a pesquisadora, para frear o colapso da floresta, medidas urgentes precisam ser tomadas. Entre elas, a moratória imediata do desmatamento na Amazônia e projetos de reflorestamento de áreas desmatadas e degradadas.
Na mesma linha de raciocínio, o ambientalista Carlos Bocuhy destrincha, em texto no ((o))eco, o que ele chama de uma distopia real que se abate sobre o Brasil. Um país “onde predadores, em consonância com lideranças políticas, de forma impune, drenam recursos naturais essenciais de planetas desregrados e pouco desenvolvidos.”
Bocuhy, ao analisar também os resultados das eleições em primeiro turno, defende que se faça estudos mais detalhados sobre a Amazônia. “É uma região que merece uma análise integrada dos indicadores relacionados à criminalidade ambiental em conjunto com a realidade política e socioeconômica. É evidente que os detentores desses processos de degradação, bastante lucrativos, irão externar seu apoio político aos setores que promovem as facilitações para seus negócios escusos.”
Na avaliação de João Paulo Viana, professor adjunto de ciência política da Universidade Federal de Rondônia, e Ivan Henrique de Mattos e Silva, doutor em Ciência Política pela UFSCar e professor do programa de Pós-graduação em Estudos de Fronteira da UNIFAP, na prática, as tensões políticas ao redor da Amazônia vão continuar em alta nos próximos anos. Ambos são integrantes do Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal (LEGAL). No Estadão, a dupla escreveu sobre os resultados das eleições estaduais realizadas em primeiro turno – algumas ainda não definidas.
“Embora a trajetória de conversão conservadora dos votos na Amazônia verificada desde, pelo menos, 2002 – com maior ênfase a partir de 2010 – tenha se mantido em 2022 (ressaltando, portanto, que 2018 não teria sido um mero “ponto fora da curva”), houve, no entanto, certo refluxo nesse processo. Se, por um lado, em 2018, 7 dos 9 governadores eleitos eram abertamente bolsonaristas, agora, dos 7 eleitos no primeiro turno, 4 são bolsonaristas e 3 lulistas – e os dois pleitos restantes serão definidos em uma disputa estritamente bolsonarista (RO) e outra entre um candidato abertamente bolsonarista e outro apoiado pelo ex-Presidente Lula (AM)”, dizem os especialistas.
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