Apesar do aumento da preocupação dos eleitores com a questão ambiental, garimpo e queimadas estão em alta

O futuro presidente da República terá que colocar a proteção da Amazônia entre as suas prioridades se não quiser desagradar os eleitores, cada vez mais atentos ao problema. Como mostra reportagem do Nexo, para 83% dos eleitores, preservar o bioma é importante para o desenvolvimento econômico do país. O resultado é fruto de uma pesquisa encomendada pelo Instituto Clima e Sociedade, divulgada na segunda-feira (26).

A pesquisa foi realizada pelo instituto PoderData e ouviu 3.000 pessoas nas 27 unidades da federação entre os dias 6 e 7 de setembro. O aumento da percepção foi de 18 pontos percentuais em relação ao mesmo questionário apresentado em julho.

Como afirma na própria reportagem o professor Fabiano Santos, professor e pesquisador da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e coordenador do Legal (Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal), “a campanha eleitoral politizou o tema e destacou a importância da proteção da Amazônia na agenda do desenvolvimento, do combate à fome e do bem-estar social”. Por isso, não deixa de ser importante o resultado aferido agora.

O que também significa que o próximo presidente terá um legado bastante negativo para enfrentar em relação à Amazônia. No caso de Bolsonaro conseguir a reeleição, fica a dúvida se haverá algum cavalo de pau na política ambiental brasileira. Na mesma pesquisa, o governo Bolsonaro foi reprovado no tema por 51% dos eleitores. Para eles, a administração do candidato à reeleição em relação ao tema ambiental foi ruim ou péssima, três pontos percentuais a mais do que em junho.

Os dados gerados pela ciência sobre a região não param de dar sustentação para aqueles que criticam a política ambiental atual. Como mostra o colunista Carlos Madeiro, as queimadas na floresta acabam de registrar mais um recorde bastante negativo. “Bastaram apenas 25 dias para que setembro quebrasse o recorde de mês com o maior número de queimadas na Amazônia desde 2010. Até ontem, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) computou 36.850 focos de incêndios no bioma. O número chama atenção porque o número de focos medidos cresceu de forma exponencial desde o início da segunda metade de agosto, levando o mês passado a ter o maior número de queimadas registrados durante o governo Jair Bolsonaro (PL)”, escreve o jornalista no UOL.

Outro estudo, divulgado pela Folha, mostra como as áreas de garimpo cresceram também de forma significativa nos últimos anos. “O levantamento aponta que, de 2010 a 2021, a área de garimpo passou de 99 mil hectares para 196 mil hectares. Em comparação, a de mineração industrial demorou 20 anos para aumentar de 86 mil hectares para 170 mil”, escreve Phillippe Watanabe. Um dos problemas graves apontado pelo estudo do MapBiomas, é o aumento das atividades de garimpo em áreas onde elas não poderiam ocorrer, segundo a legislação. “Pelo menos, 12% do garimpo nacional é necessariamente ilegal. Essa é a quantidade de garimpos que existem dentro de áreas restritas à atividade garimpeira, que são Terras Indígenas e Unidades de Conservação de Proteção Integral. Nessas regiões não pode existir garimpo”, afirma à Folha Cesar Diniz, coordenador-técnico do mapeamento de mineração do MapBiomas. “Fora desses 12%, espera-se que exista um contingente de ilegalidade muito maior”, completa o especialista.

E cada vez mais perto do primeiro turno, apesar de as pesquisas mostrarem uma maior preocupação do eleitor com a situação da Amazônia, a proposta defendida para a região pelo presidente Bolsonaro e seus grupos de apoio ainda é chancelada em vários estados. Como mostra ((o)) eco, as eleições para presidente, no Norte do país, estão bastante acirradas.

A partir de dados da mais recente pesquisa Ipec para intenções de voto, Lula aparece na frente em quatro dos nove estados da Amazônia Legal. Em outros quatro, Bolsonaro é o líder. “O único empate dentro do limite da margem de erro acontece no Tocantins, com o petista numericamente na primeira posição. Essa vantagem de Lula chama a atenção pelo Tocantins ser um dos principais centros do agronegócio do país, setor este majoritariamente pró-Bolsonaro”, escreve Fabio Pontes.


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