Enquanto Bolsonaro apresenta um país ambientalmente pujante na ONU, ações práticas, em paralelo, pressionam governos e até setor privado a priorizar o clima
Em seu discurso nesta terça-feira na ONU, o presidente Bolsonaro voltou a mostrar apenas a parte do filme que interessa a ele, candidato à reeleição. “Em matéria de meio ambiente e desenvolvimento sustentável, o Brasil é parte da solução e referência para o mundo. Dois terços de todo o território brasileiro permanecem com vegetação nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi descoberto, em 1500. Na Amazônia brasileira, área equivalente à Europa Ocidental, mais de 80% da floresta continua intocada, ao contrário do que é divulgado pela grande mídia nacional e internacional”, afirmou o Bolsonaro, em tom de campanha eleitoral.
Além de o presidente ter distorcido a realidade em relação à imprensa, ele também não falou que o desmatamento da Amazônia, por causa da agropecuária, acelerou-se nos últimos anos. E, hoje, parte da região já está chegando próximo ao chamado ponto de virada. Se quisesse mesmo ter feito do Brasil uma parte da solução climática, deveria ter implementado um plano robusto. Mas, ao julgar pelas últimas pesquisas, essa deve ter sido a última fantasia que apresenta ao plenário da ONU.
A Noruega, por exemplo, acaba de avançar mais em questões práticas. Como mostra o correspondente Assis Moreira no Valor, os noruegueses estão focados em fazer com que os países realmente cumpram o Acordo de Paris, inclusive o Brasil. O fundo soberano da Noruega – de US$ 1,2 trilhão, o maior do mundo – anunciou nesta terça-feira (20) um novo plano de ação para que todas as companhias nas quais investe alcancem emissões líquidas zero de gases de efeito estufa até 2050, em linha com o Acordo de Paris. Entre elas, estão, por exemplo, as brasileiras Petrobras, Suzano e Cosan, relata Moreira, entre outras.
Na própria ONU, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apresentou uma visão bem diferente da apresentada pelo presidente brasileiro sobre a questão climática. “Aqui está outra batalha que devemos terminar, nossa guerra suicida contra a natureza. A crise climática é a questão definitiva do nosso tempo. Deve ser a primeira prioridade de todos os governos e organizações multilaterais”, disse o secretário-geral da ONU, que falou que o mundo vive ainda um vício coletivo em combustíveis fósseis. “A indústria de combustíveis fósseis está se banqueteando com centenas de bilhões de dólares em subsídios e lucros inesperados, enquanto os orçamentos das famílias encolhem e nosso planeta queima. É hora de uma intervenção.”
Também em Nova York, nesta terça, líderes empresariais, ambientalistas e cientistas fizeram uma discussão bem mais atrelada aos desafios reais da Amazônia hoje, mostrando como os fatos se sobrepõem aos discursos. “É preciso mostrar a realidade. Esse campo todo do desmatamento, da violência, do abandono de todos indicadores de educação, saúde, saneamento, ciência e tecnologia. É a região do abandono, que não tem política pública e vive o desmatamento como consequência de tudo isso. Isso precisa ser falado e mostrado” afirma Roberto Waack em reportagem do jornal O Globo, cofundador da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia, uma das organizações que estarão no painel, ao lado do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), da Re.green e da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.
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