Comunidades indígenas, quilombolas e o organizações da sociedade civil identificam caminhos para continuar a luta pela preservação da floresta

Como diz a líder indígena Txai Suruí em sua coluna na Folha de S.Paulo, neste Dia da Amazônia (5/9), é importante não apenas conhecer a floresta como lembrar da “resistência e da bravura dos seus Povos”. Nas palavras de Txai, são eles, que com “seus corpos e seus espíritos mantêm essa floresta de pé e que por ela nunca deixarão de lutar, pois entendem sua importância e amam aquele lugar.”

Não há nada de romantismo descabido na mensagem da jovem indígena. A geração de Txai está com os dois pés fincados neste momento atual da Amazônia e da humanidade. A luta pelo meio ambiente, e pela diversidade étnica, é um dos pilares das gerações que já nasceram na era digital. Um exemplo singelo, mas não menos importante, está relatado nessa reportagem da revista Página 22.

Por iniciativa de Samuel Benzecry, aluno da Universidade Stanford, e do estudante do ensino médio em Manaus, Juliano Portela, existe agora um teclado ligado a um software que permite a comunicação em mais de 40 línguas indígenas da Amazônia. Por terem muitos caracteres especiais, até hoje, várias línguas indígenas amazônicas estavam excluídas da revolução digital. O que fazia com que as diferentes comunidades se comunicassem apenas por áudio, colocando em risco a própria continuidade das línguas nativas.

De uma forma mais macro, a atual geração é herdeira de uma luta milenar. “Ouvimos histórias dos mais velhos sobre como era a realidade dos povos nos seus tempos, escutamos relatos de guerras, acordos, massacres, violências e violações”, escreve Alice Pataxó, Samela Sateré Mawé e Txai Suruí, em outro artigo também publicado pelo jornal Folha de S.Paulo. Mas se no passado, as armas disponíveis eram os arcos e as flechas, agora, elas mudaram. São o papel, a caneta, as leis, como a própria Constituição, e a tecnologia, representada pelos celulares, computadores, câmeras e drones.

A organização social dos Quilombolas, com o apoio de instituições da sociedade civil, também é uma forma consolidada de resistência. Pelo menos em algumas regiões da floresta, onde a produção de produtos amazônicos vêm ganhando escala e gerando renda.

Daniela Chiaretti mostra no Valor os interessantes exemplos de Oriximiná, na margem esquerda do Amazonas, e de outros municípios existentes ao longo do rio Trombetas e afluentes. Na região do oeste paraense existem por volta de dez mil Quilombolas espalhados em 37 comunidades. São descendentes de escravizados que deixaram, no passado, as lavouras de cacau por conta de maus-tratos e da situação de escravidão. Agora, na Calha Norte, essas comunidades trabalham na produção própria de produtos não-madeireiros como o cumaru, a andiroba, a castanha e a copaíba. Assentados rurais e indígenas também fazem parte da Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte, a Coopaflora.

Um dos grandes desafios enfrentados hoje, é criar oportunidades para os jovens, para que estes optem por ficar na região e continuem a luta. As quatro agroindústrias já em funcionamento podem ajudar na busca deste objetivo.

Mas existem problemas de fundo na região amazônica que também precisam ser lembrados no dia que se escolheu para comemorar a importância da região que representa praticamente 60% do Brasil. 

Como mostram Renata Piazzon, diretora do Instituto Arapyaú, e Mônica Sodré, diretora da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS), que juntas também trabalham no projeto Uma Concertação pela Amazônia, a sustentabilidade ainda está distante da agenda política brasileira. E as especialistas não falam apenas sobre o governo federal, mas dos congressistas e dos próprios políticos dos estados da região norte do país.

“Nosso esforço é, primeiro, tratar a sustentabilidade para além de um viés apenas ambiental, e de mostrar que a Amazônia tem um papel central na equação climática do mundo, na nova geopolítica ambiental. Precisamos de políticos mais preparados e mais próximos dessa agenda e também capazes de dialogar com o restante do mundo sobre ela. O universo político tem se mostrado um tanto quanto distante dessa agenda”, afirma Mônica nesta entrevista ao Estadão.


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