Além de enfrentar a destruição da floresta, um plano de desenvolvimento da região precisa ir além da agenda ambiental

A análise feita pela jornalista Ana Carolina Amaral, na Folha, reforça um ponto importante do processo de desmatamento da Amazônia. O governo Bolsonaro criou um trágico patamar para a região. O desmatamento saltou de uma média de 7.000 km² no período 2015 e 2018, para mais de 10 mil km² em 2019, subindo novamente para 10,9 km² em 2020 e, então, para assustadores 13 mil km² em 2021 (valores obtidos por média simples dos dados do sistema PRODES-INPE). 

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A consolidação dos dados do PRODES para o período que vai de agosto de 2021 a julho de 2022 só virá no fim do ano, mas segundo estimativas do Observatório do Clima, não é possível se descartar uma inédita quarta elevação anual consecutiva na destruição da Amazônia. Jair Bolsonaro já é hoje o único presidente desde o início do monitoramento por satélite da floresta (em 1988) a presidir o crescimento do desmatamento por três anos seguidos de seu mandato.

“É mais um número que estarrece, mas não surpreende: o desmatamento fora de controle na Amazônia resulta de uma estratégia meticulosa e muito bem implementada de Bolsonaro e seus generais para desmontar a governança socioambiental no Brasil”, declarou Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.

Durante os últimos anos, desde que Bolsonaro e sua visão para a floresta chegaram ao poder, o desmatamento tem virado um processo endêmico na região Norte, chegando a áreas que antes eram poupadas. Como relata Giovana Girardi, na Folha, “são processos que ampliaram a fronteira de expansão agrícola para além do arco do desmatamento e penetraram mais na floresta, além de ter explodido em cidades no Cerrado em poucos anos e atingido mais da metade dos municípios de todo o país”.

Diante do diagnóstico, editorial do Valor fala da necessidade do exame das propostas dos candidatos ao Planalto para a área ambiental. O editorial menciona a existência de obras de infraestrutura em curso na região, como a da BR-319, que podem piorar ainda mais o problema, caso um sistema eficiente de comando e controle não seja implementado.

Como descreve Daniela Chiaretti também no Valor, o Amazônia está presente no programa de governo das quatro principais candidaturas, mas com visões e detalhamentos bastante diferentes. A proposta petista, do candidato que segue na primeira colocação nas pesquisas de intenção de voto divulgadas até agora, foca no combate ao crime ambiental, mas também na criação de políticas públicas de incentivo ao que vem dando certo em termos de desenvolvimento socioambiental, mas não dá muitos detalhes.

Na proposta do candidato à reeleição, a questão da mudança do clima está mais atrelada ao agronegócio do que à floresta. Especificamente sobre o desmatamento, o documento cita números de ações de combate a incêndios florestais e ao desmatamento ilegal, sem fazer menção às altas taxas de desmatamento e às queimadas recordes no Cerrado e no Pantanal nos anos do atual governo. A proposta também menciona a intenção de consolidar o mercado de créditos de carbono, sem fazer conexão com a destruição da floresta.

A questão amazônica precisa ser analisada para muito além das eleições. A queda do desmatamento de forma contundente, e por muito tempo, é apenas uma parte importante do problema. A outra, como afirma a diretora do Instituto Arapyaú, Renata Piazzon à repórter Renata Cafardo no Estadão, é ampliar a transversalidade dos programas para a região. “Não dá para a gente resolver o problema do desmatamento da Amazônia só olhando para agenda ambiental”, diz Piazzon, também secretária executiva da rede Uma Concertação pela Amazônia. “A rede, assim como um número crescente de especialistas, defende que o desenvolvimento social da região, em especial com uma educação de mais qualidade, é crucial para manter a floresta em pé”.


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