Mundo corporativo mergulha no ESG, mas esse caminho sozinho pode não ser suficiente para enfrentar a urgência climática

Em uma crise sistêmica, como a provocada pela pandemia, quando as pessoas perceberam que a destruição de florestas abre uma caixa de pandora incrível de novos vírus (a ciência indica que o coronavírus é apenas um deles), algumas transformações aceleradas também podem ocorrer. Pelo menos, é o que defende o britânico John Elkington, consultor e professor universitário que criou o termo “Tripé da Sustentabilidade” nos anos 1990.

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Em entrevista ao O Globo, o intelectual afirma que mesmo os países ignorando o aquecimento global e as mudanças climáticas – como fizeram com a pandemia – existem muitas oportunidades abertas para a sustentabilidade, quem sabe, enraizar-se pelas sociedades planetárias. “Podemos impulsionar mudanças sistêmicas mais rápido e mais longe quando os políticos, investidores e outros importantes agentes de mudança percebem que não sabem o que está acontecendo e buscam ajuda”, diz Elkington, mesmo admitindo que muito do que existe hoje ao redor do ESG é ilusão. “Em algum aspecto meu otimismo vem mais pelo caos e da probabilidade de essas emergências criarem ainda mais caos. Isso, em última instância, nos forçará a fazer coisas que agora achamos inimagináveis”, diz o consultor britânico.

Mas a questão não é só o enfrentamento da crise climática de forma sistêmica,  mas também a velocidade com que isso deve ser feito. No cenário nacional, além do ritmo lento, houve retrocessos nos últimos meses e anos. Como escreve Maria Cristina Fernandes, no Eu&, suplemento mensal do Valor, a Amazônia, nas próximas eleições, deve ser defendida mais de fora para dentro do que o contrário. Isso porque, a bancada ambiental do Sudeste, com candidatas como Marina Silva, deverá ser maior do que a formada por candidatos que concorrem pela própria região. “Em grande parte, pelas expectativas geradas na população por pautas bolsonaristas como a regularização das terras griladas e a convivência com o desmatamento”, escreve Maria Cristina, a partir de uma fala da própria Marina que, no passado, concorreu e ganhou uma cadeira no Senado pelo estado do Acre.

O aspecto político também é essencial para dar celeridade às mudanças. Mas, o que pode provocar uma mudança de fato, fora da pauta rasteira de política partidária, é a organização social. Como mostra esta reportagem do Estadão, na própria Amazônia, comunidades locais e entidades do terceiro setor, do Judiciário e da Academia remaram na mesma direção e conseguiram uma vitória importante no sul do Amazonas, a mesma região que pode ser ainda mais impactada caso o asfaltamento da BR-319 saia do papel e, em paralelo, a fiscalização dos crimes ambientais na região continue frouxa. Como mostra a Folha, um dos cenários possíveis com a estrada – por mais que ela vá facilitar o deslocamento das pessoas para centros como Manaus – é o aumento da grilagem.

Se o Brasil colocar a questão ambiental de verdade entre as suas prioridades, talvez pelo menos parte do potencial previsto para a circulação do tal dinheiro “verde”possa ser transferido para o mundo real. Estimativas recentes, como mostra outra reportagem do O Globo sobre o universo ESG, indicam que até US$ 100 bilhões podem chegar ao Brasil, neste campo, até 2030.

E, neste caso, um dos problemas estruturais em que o país está atrasado é na regularização do mercado de carbono. Muito em breve, além dos créditos de carbono, virão outros, como o de biodiversidade, segundo afirma Marina Cançado, co-CEO da Future Carbon, ao repórter Italo Beirão Filho. A questão é que só o dinheiro não resolve. Ele precisa estar atrelado a projetos com impactos socioambientais reais, o que não se consegue com uma visão atrasada de mundo.


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